São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Inquéritos patinam em Vilhena

GEORGE ALONSO
DO ENVIADO ESPECIAL

Quase um mês depois do massacre de Corumbiara, estão patinando os dois inquéritos do caso.
Na delegacia de Vilhena, avança com dificuldades o inquérito presidido pelo delegado Raimundo Mendes de Souza Filho.
O outro, da Polícia Militar, dirigido pelo tenente-coronel João Carlos Balbi, está quase parado.
O Inquérito Policial Militar (IPM), instalado em 16 de agosto, ouviu, segundo Balbi, apenas três PMs, que não participaram diretamente da ação. Ao todo, precisam ser ouvidos ainda 190 PMs. "Preciso ter cópias do inquérito civil para questionar os soldados", diz.
Para ser concluído, o IPM tem prazo máximo de 60 dias.
O inquérito da Polícia Civil está mais adiantado. Sua conclusão foi prorrogada para 9 de outubro.
Prestaram depoimentos 125 posseiros (sem a presença de advogado), e os laudos de 11 dos 12 mortos estão no processo. Mas os laudos do exame de corpo de delito (lesões sofridas) dos 125 sem-terra ouvidos ainda não estão prontos, segundo Souza Filho.
Foram apreendidos com os posseiros 354 foices, 53 facas, 91 machados, 4 enxadas, 2 pás, 26 espingardas, 3 garruchas, 2 revólveres, 12 motosserras, 2 bombas de fabricação caseira, 10 caixas de espoletas e tubos com munição.
Souza Filho diz que na próxima semana começará a ouvir os policiais. "Se a PM fez alguma besteira, tudo será apurado", diz.
Aos posseiros, porém, as perguntas do delegado parecem querer incriminar os líderes sem-terra.
Foi perguntado, por exemplo, se havia bandeira com foice e martelo no acampamento, se os líderes impediam os posseiros de sair da área, se sem os líderes a reação à PM teria sido menos intensa.
Não foram ouvidos vizinhos da fazenda. Cinco famílias ouvidas pela Folha disseram que os tiros começaram por volta das 4h. O cumprimento de ordem judicial à noite é inconstitucional. "Acordei às 4h30 e comentei com meu marido: 'parece uma guerra'. Ouvi tiros até as 9h, quando estava socando o arroz", diz Elza Bibiano.
Os posseiros deverão ser enquadrados por invasão e resistência ao despejo.
(GA)

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