São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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De emprego em emprego, paraibano termina na rua

BETINA BERNARDES
DE EMPREGO EM EMPREGO, PARAIBANO TERMINA NA RUA

Luís Carlos da Silva é um típico "mendigo do Real": está sem casa há seis meses, após perder o emprego de encarregado de estoque numa vinícola.
Silva, 32, é paraibano e veio para São Paulo em 79. "Cheguei sozinho em um ônibus Itapemirim e fui trabalhar de copeiro." Na época, morava sozinho em uma pensão na região central.
Entrava no emprego às 16h e saía à meia-noite. "Trabalhei oito meses nessa firma de garçom e o patrão começou a mandar gente embora."
Depois disso, não conseguiu mais emprego e se mudou há dois meses para a rua Helvétia (região central), onde divide a calçada com Ana Araújo, 32.
Ana faz comida para as cerca de 30 pessoas que ocupam o local atualmente. Ela diz que não conseguiu mais trabalho após ficar presa três anos por estelionato e tráfico de drogas.
"Se já é difícil para todo mundo, imagine para quem passou pela cadeia." Ela prepara a comida com os legumes e verduras que pega na feira e cozinha no fogo feito de madeira.
Está na Helvétia há cerca de dois meses. "A rua é tão perigosa quanto qualquer outro lugar, não tenho medo." Ana diz que "uma moça que passa todos os dias em um Del Rey" vai conseguir um emprego para ela. "A moça traz comida, roupa e cobertor para a gente."
Ela afirma que escreve um diário, mas depois rasga tudo porque "tem muito curioso querendo ler". Ana conta que nunca foi à escola e aprendeu a ler e escrever sozinha.
"Quero trabalhar e ter uma vida normal, espero conseguir isso logo."

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