São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Mendigo elogia Plano Real

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O mendigo que pede esmolas na rua Maranhão, a 30 metros do prédio onde mora em São Paulo o presidente Fernando Henrique Cardoso, acha que a sua situação melhorou depois da implantação do Plano Real, em julho de 94.
"Antes, o pessoal dava CR$ 1.000,00. Hoje, dá R$ 1,00, que vale mais de CR$ 2.000,00 (na realidade vale CR$ 2.750,00)", diz Antônio Marcelino Ferreira.
Motorista desempregado, Ferreira mora nas ruas desde o dia 4 de março de 1993.
Vive em companhia de Diná Vieira da Silva, 41, que afirma perambular pelas ruas há 14 anos.
"Já conhecia o Fernando Henrique antes de ele ser presidente, quando era professor", diz ele.
No último fim-de-semana, diz Ferreira, o presidente o presenteou com dois pequenos rádios. "Mas eu perdi dois dias depois."
"Preferia que ele tivesse dado uma casa para a gente morar. Estou cansada dessa humilhação de morar na rua", acrescenta Diná.
Ferreira conta que ele e Diná dividiam a calçada da rua Maranhão, em Higienópolis (região central), com uma mulher chamada Ana. "Ela foi expulsa daqui porque não tomava banho e cheirava mal."
O casal afirma tomar banho num buraco perto do estádio do Pacaembu.
O mendigo diz receber até R$ 10 por dia de esmolas dos vizinhos do presidente. Também recolhe alimentos com data de validade vencida, jogados no lixo por um supermercado na rua.
"Outros mendigos já bateram em mim para pegar comida. Eles só querem beber. Nós não temos esse vício", diz ele.
Ferreira afirma que não trabalha porque teme deixar Diná sozinha nas ruas. "Tenho medo que alguém maltrate ela", diz.
(MSy)

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