São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Para o setor de veículos, crise é "conjuntural"

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor automobilístico atravessa "grave crise conjuntural", provocada pelas restrições ao crédito impostas para conter o consumo.
A definição foi expressa em documento enviado ao governo no último dia 25 por montadoras, fornecedores e sindicatos, com o pedido de flexibilização do crédito para diminuir estoques, deter a queda das vendas e evitar novas demissões.
O estoque de carros encalhados nas fábricas e nas concessionárias atingiu, segundo levantamento das Anfavea (associação dos fabricantes), 237 mil unidades no dia 20.
Esse volume é suficiente para 55 dias de vendas. O normal é manter estoque para 10 a 15 dias.
Apesar disso, para as montadoras não é possível falar em recessão na indústria.
Célio Batalha, diretor de Assuntos Governamentais da Ford, diz que há um "desaquecimento provocado e desejado pelo governo", afirma Batalha. "Não é possível falar em recessão".
Ele lembra que as vendas caíram em relação a meses anteriores, mas o resultado ainda é positivo se comparado com o de 94.
Segundo dados da Anfavea, as vendas de carros de janeiro a julho deste ano cresceram 11,9% em relação ao mesmo período de 94.
Para Batalha, o governo está tentando recuperar de forma gradual os mecanismos de crédito, como no caso da liberação do leasing para taxistas e frotistas.
O vice-presidente da Volkswagen do Brasil, Miguel Jorge, também nega haver recessão no setor.
Para Jorge, o que existe é uma "conjuntura desfavorável". Mas, segundo ele, as condições básicas para a expansão programada pelo setor -3 milhões de veículos no ano 2000- estão mantidas.
Ele dá como exemplo os investimentos anunciados pela própria Volkswagen -US$ 500 milhões para construir uma fábrica de caminhões e outra de motores- e a intenção de novas montadoras se instalarem no país.
Para Wilson Começanha, diretor de Relações Trabalhistas do Sindipeças (sindicato da indústria de autopeças), a recessão já se instalou na indústria. Ele calcula que cerca de 5% dos 250 mil empregados do setor de autopeças foram demitidos apenas em julho e agosto. Mas considera que "o quadro pode ser revertido ainda este ano", se flexibilizado o crédito.
Queda após recordes
As vendas de carros começaram a cair a partir de abril. Até aí, a indústria vinha batendo sucessivos recordes de produção e vendas.
Para desaquecer a economia e conter a inflação, foram encurtados os prazos de financiamento.
Em fevereiro deste ano, os grupos de consórcio também sofreram restrições e o leasing (aluguel com opção de compra) foi proibido.
Com as vendas em queda, as fábricas e concessionárias recorreram aos descontos e reduções no preço de tabela.
As montadoras trouxeram cerca de US$ 1 bilhão do exterior para financiar carros com correção pela variação do dólar.
Mas as vendas continuaram caindo: 24,5% no atacado (das fábricas para as concessionárias) e 5% no varejo (da revenda para o consumidor) entre junho e julho.
As férias coletivas concedidas em julho pelas montadoras (a única exceção foi a Volkswagen) não foram suficientes para diminuir os estoques e vieram as demissões.
A decisão do governo de liberar parcialmente o leasing é considerada positiva, mas insuficiente.
Para José Carlos Pinheiro Neto, diretor da GM, a medida mostra que o governo "está sensível à situação do setor".
Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (federação dos distribuidores), diz que a liberação do leasing "ajuda, mas não resolve o problema". O mercado para frotistas representa 7% do total.

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