São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995 |
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Safra recorde traz perda de R$ 9,6 bi
BRUNO BLECHER
A perda de receita na safra 95, em relação a 94, chega a R$ 9,6 bilhões, valor equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). A estimativa considera a receita de 20 produtos agrícolas, com base nos preços médios dos cinco primeiros meses do ano. "O rombo é tão grande que corroeu a capacidade de autofinanciamento dos agricultores, obtida nos últimos anos com o crescimento da produtividade a taxa média de 3% ao ano", diz Fernando Homem de Melo. A perda de receita equivale a 56,6 milhões toneladas de fertilizantes, volume suficiente para o consumo de seis anos agrícolas. Os R$ 9,6 bilhões também correspondem ao valor de 193.664 tratores novos (de 105 cv), 40% da frota nacional (veja quadro). Para Homem de Melo, a queda da receita foi consequência de uma série de fatores adversos: juros altos, sobrevalorização do real, excessiva redução das tarifas de importação de produtos e ineficácia da política agrícola. "A agricultura pagou um preço alto por servir de âncora verde para o Plano Real", diz o professor. A descapitalização dos produtores rurais com a safra 95 já se reflete no comércio de insumos para o plantio da próxima temporada. As vendas de tratores de rodas caíram 33,8% e as de colheitadeiras 39,6% entre janeiro e julho deste ano, em relação a igual período de 94, segundo levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Sem dinheiro no bolso e com dificuldades para obter crédito nos bancos, o agricultor deve reduzir também a adubação das lavouras na safra 96. Levantamento do Sindicato das Indústrias de Adubos do Estado de São Paulo indica que em agosto último foram vendidas 865 mil toneladas de fertilizantes, 25% a menos do que no mesmo mês de 1994. O resultado das vendas de adubos do primeiro semestre deste ano (3,4 milhões de toneladas) ficou 21% abaixo de igual período de 94. "A queda da produção na safra 96 é inevitável", alerta Fernando Homem de Melo. O governo, segundo ele, não só trabalha com essa hipótese, como também a deseja. "A estratégia do governo é enxugar os excedentes do mercado, permitindo a elevação dos preços agrícolas até um ponto que não comprometa a política de controle da inflação", diz o professor. "É um raciocínio perigoso. Se o clima não for favorável, o tiro pode sair pela culatra", adverte Fernando Homem de Melo. Texto Anterior: Regra de consórcio não muda Próximo Texto: Bancos 'importam' recursos Índice |
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