São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Um clássico lusitano em terras dos brasis

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quem diria há umas duas semanas que num domingo de Flamengo x Palmeiras o jogo mais significativo seria o clássico lusitano em terras dos brasis, Portuguesa e Vasco? Afinal, o Vasco acabara de cumprir uma temporada carioca sem flama nem glória, enquanto a Lusa de Candinho fragmentava-se como de hábito, ao fim de mais uma campanha frustrada.
Pois, neste exato momento, a Portuguesa é a única representante paulista que, mesmo sem empolgar, cumpre uma performance ao menos digna no Brasileirão. E o Vasco, dentre os cariocas, é aquele que, além de invicto, já conseguiu oferecer o melhor espetáculo do torneio -os 5 a 3 sobre o Santos, na Vila.
Já o Flamengo montou uma defesa sólida e um ataque deslumbrante, mas esqueceu-se de fazer a devida ligação entre ambos. Resultado: Edmundo, Romário e Sávio, o que seria o maior ataque do mundo, não conseguem marcar gols.
Pelo menos não na proporção da expectativa que sua montagem despertou. Claro, pois se a bola não lhes chega doce e suave, açucarada e amansada pelo meio-campo, só resta a tentativa exasperante de ir buscá-la lá atrás e tentar levá-la à zona de perigo em jogadas individuais. Isso, quase certo, sempre acaba em mais lenha na fogueira das vaidades que é a reunião indevida de craques consagrados de personalidades sensíveis, como é o caso do ataque rubro-negro.
Já o Palmeiras, que começou bem o torneio, resvala por perigosos caminhos: a liberação de Válber para o Inter e o impasse na renovação dos contratos de Cléber, Rivaldo, Paulo Isidoro e Alex Alves fragilizaram a sua defesa, embruteceram o seu meio-campo e drenaram a sua força de ataque.
Sim, porque Célio Lúcio, ainda que bom reserva para uma eventualidade, longe está de oferecer a segurança que o becão Cléber dá ao setor. Isso sem falar no entrosamento que Cléber já tem com seu velho parceiro de área, Antônio Carlos.
Quanto a Rivaldo, simplesmente vinha sendo o mais importante jogador do ataque, pois a seus pés somavam-se múltiplas funções: apoiar o meio-campo na marcação, armar as jogadas de ataque e estar lá na área, presente na hora da conclusão. E, com a saída de Válber, perdeu o Palmeiras um dos raros armadores que atuam no futebol brasileiro capazes de cumprir tais tarefas na equipes.
Restou, pois, ao treinador montar seu meio-campo com três heróicos guerreiros na luta pela posse de bola (Flávio, Amaral e Mancuso), nenhum capaz de organizar o jogo. Mesmo porque, completando o setor, dispõe apenas de Edílson, um serelepe com a bola nos pés, mas, como tal, apenas um aríete, que atua em alta velocidade e extrema individualidade.
Quem, então, para pensar pelo time? Quem, para alternar passes curtos com lançamentos longos e surpreendentes? Quem, para determinar o ritmo mais conveniente de jogo, de acordo com o andamento da partida? Ninguém.

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