São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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A felicidade é um ímã

DAVID CONCAR
DA "NEW SCIENTIST"

Uma americana quarentona sofria de depressão há anos. Por isso, quando uma equipe de psiquiatras resolveu experimentar um tratamento novo, o ambiente não chegava a ser otimista.
Especialmente porque o tratamento em questão era um aparelho eletromagnético manual do tamanho de uma luva de beisebol.
Ela terminou por dizer que se sentia inteiramente bem pela primeira vez em três anos. No entanto, a única coisa que os médicos fizeram foi segurar o aparelho magnético contra sua testa, do lado esquerdo, durante 20 minutos em dias alternados.
A única coisa que o aparelho fez foi emitir pulsos magnéticos que a paciente mal conseguia sentir.
"Não é uma cura total, mas é fato que, em alguns pacientes, os estímulos magnéticos parecem reequilibrar o cérebro temporariamente", diz Mark George, do Instituto Nacional de Saúde Mental, que hoje está dando continuidade a seu trabalho na Universidade Médica da Carolina do Sul (EUA).
Os pesquisadores acreditam que os pulsos magnéticos funcionam imitando alguns dos efeitos da terapia eletroconvulsiva (TEC).
Mas a diferença entre as duas é grande. Diferentemente do tratamento por eletrochoque, o estímulo magnético (ETM) não visa causar convulsões.
Os pulsos rápidos de magnetismo que ela "dispara" na cabeça estimulam os tecidos cerebrais de maneira mais precisa do que a TEC, produzindo efeitos elétricos que reavivam a atividade das camadas externas do cérebro, em uma área do córtex necessária para a expressão de uma gama normal de emoções.
Essa é a teoria, pelo menos. A prova dos noves será tirada nos próximos meses, quando uma dúzia ou mais de pacientes deprimidos terão seus cérebros estimulados por pulsos magnéticos, enquanto George e seus colegas esperam ansiosamente para verificar se suas observações preliminares serão confirmadas num teste controlado.
Uma confirmação clínica da validade do estímulo magnético poderia facilitar a compreensão de como o cérebro gera emoções.
Mas quais seriam os efeitos colaterais? Até que ponto poderia haver abuso? Será que os cientistas realmente estão a um passo de conseguir fazer com pulsos magnéticos invisíveis o que antes exigia comprimidos e eletrodos?
George responde sem rodeios: "Há muita coisa que vemos e ouvimos todos os dias que soa como ficção científica, mas é fato".
Mas a ETM como instrumento de pesquisa é uma coisa; seu uso para melhorar o estado de ânimo é inteiramente outro.
Até agora, George e seus colegas testaram a técnica em apenas seis pacientes deprimidos. Dois deles apresentaram reações muito significativas; dois, reações moderadas; e dois não reagiram.
Em outros ramos da medicina, esses resultados poderiam ser vistos como pouco promissores, mas, no caso de uma doença conhecidamente variável como é a depressão, equivalem praticamente a ganhar na loteria, especialmente quando os pacientes em questão já esgotaram virtualmente todos os tratamentos convencionais.
"O que fazemos é ligar e desligar os nervos 800 vezes em 20 minutos", diz George. "Fazemos por meio da repetição o que a TEC faz pela força bruta", diz.

Tradução de Clara Allain

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