São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Fantoches contam a história da poesia

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Peça: Guerra dentro da Gente
Direção: Magda Crudelli
Elenco: Magda Crudelli, Kelly Horacy e Lilian Guerra
Onde: Centro Cultural São Paulo, Centrinho Cultural (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611)
Quando: sábados e domingos, às 16h
Quanto: R$ 5,50

Nos últimos dois anos, São Paulo tem sido palco para muitas peças de teatro de bonecos, o que parece mostrar que o gênero está agradando.
"Guerra dentro da Gente" não é exatamente teatro de bonecos, como "Circus" -ambas as montagens estão no Centro Cultural São Paulo, ou como "Truks: a Bruxinha".
Mas não deixa de ser um espetáculo. Pela clareza com que narra a história "Guerra dentro da Gente" (1987, Scipione, agora em 6ª edição), novela para o público juvenil, do poeta Paulo Leminski (1944-1989), autor do barulhento "Catatau" e da bem-sucedida coletânea de poemas "Caprichos e Relaxos" (1983, Brasiliense).
Segundo a diretora de "Guerra dentro da Gente", Magda Crudelli, a companhia Trecos e Cacarecos foi criada para montar um trabalho com esse texto.
Duas contadoras de histórias manipulam fantoches, um boneco com fio (gaivota), outro com luva (mendiga) e seguram com as gargantas o enredo da montagem. Quem só gosta de ação, desista de assistir à peça.
É uma bela história. O menino Baita conhece um velho que vira o seu mestre na arte da guerra.
Como todo menino, Baita sonha com batalhas vencedoras. Mas o velho mostra a ele o "lado soturno da guerra".
Ensina ao menino a desconfiar de qualquer pessoa, pois vende Baita a um circo, como escravo.
Baita é um boneco manipulado por Crudelli. Kelly Horacy faz o papel do velho.
Há uma cena da história, contada com teatro de fantoches na tenda de circo do Centrinho Cultural, que mostra Baita com fome, caçando uma rã.
As contadoras intercalam o teatro com a narrativa oral. Desse modo, o público não fica tão cansado de concentrar a atenção na história.
É uma trama longa e complexa, com seqüência linear. O velho aparece no circo, propondo que Baita fuja com ele.
Baita aprende a cuidar de elefantes. Com os tigres, entende o que é ter medo.
O velho e ele vivem muitas peripécias. Trabalham em um barco. Baita conhece o mar e se apaixona pela princesa Sidarta.
Em ritmo de fábula oriental, com cenário e trilha sonora características, Baita descobre que o velho, Kutala, mandou matar os poetas quando era general.
"Os poetas são mágicos, feiticeiros", brinca Leminski. "Alguns carregam um pequeno demônio dentro de uma garrafinha... Fazem o que querem com as palavras."
O velho diz a Baita para nunca acreditar em poetas. "Sempre dizem o contrário do que pensam".
"Guerra dentro da Gente" é uma oportunidade de ouvir a história da poesia.

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