São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995 |
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Brasileira é candidata na Alemanha
SILVIA BITTENCOURT
Há 16 anos no país, Stollenwerk desenvolve em Berlim atividades sociais com estrangeiros, idosos e crianças carentes. "Não sabia que existiam tantas crianças mal tratadas aqui", disse. O trabalho social fez com que seus amigos a convencessem a entrar na política. "Foi um acaso". Estrangeira e negra, Stollenwerk disse já ter sido vítima de racismo. Mas ela acredita que a eleição de uma negra para a Câmara de Vereadores de um dos distritos de Berlim poderá ajudar no combate à discriminação dos estrangeiros residentes na Alemanha. O nome de Stollenwerk é o sétimo da lista do partido para a Câmara do distrito de Berlim-Schõneberg. Sua eleição está praticamente certa. Em entrevista à Folha, concedida na sua casa, no centro de Berlim, Stollenwerk defendeu mais direitos aos refugiados da ex-Iugoslávia que vivem na Alemanha e criticou a imagem que a imprensa alemã apresenta do Brasil. Folha - Como a sra. veio parar na Alemanha? Maria de Fátima Barros Stollenwerk - Eu me apaixonei no Brasil por um alemão. Depois de um ano discutindo quem iria para o país do outro, decidi vir para cá. Folha - O que a sra. já fez profissionalmente aqui? Stollenwerk - Vim do Brasil com meu curso de psicologia incompleto e entrei na Universidade Livre de Berlim. Trabalhei por 13 anos em um asilo de idosos doentes mentais e depois em uma associação de casais binacionais. Trabalho agora como psicóloga nessa instituição. Comecei também a trabalhar com menores carentes, o que foi uma surpresa para mim. Não sabia que existiam tantas crianças mal tratadas aqui. Folha - Como a sra. ingressou no Partido Verde? Stollenwerk - Foi um acaso. Uma amiga conhecia muitas atividades na área social e as minhas críticas. Ela me convidou para ocupar um cargo na Câmara dos Vereadores de Schõneberg, para ser uma espécie de porta-voz dos estrangeiros. Fiz isso durante dois anos. Agora eles me pediram para me candidatar a vereadora. É pelo fato de eu conhecer muito a situação dos estrangeiros, sua situação legal, a opressão legalizada. No começo, não queria, mas eles insistiram tanto. Folha - Por que a sra. não queria? Stollenwerk - É muito trabalho e eu já trabalho bastante. Estou sempre ocupada. Tenho dias de 16 horas de trabalho. Às vezes, preciso de um tempo para mim. Folha - A sra. é estrangeira e negra. Já foi vítima de racismo aqui? Stollenwerk - Duas ou três vezes, em 16 anos, fui vítima de ataques verbais. Mas eram ataques muito pobres. O problema maior é que as leis protecionistas estão nas mãos de funcionários racistas. Isso dói mais. Se você não conhece a base legal do país, você não consegue se defender e acaba acreditando naquela autoridade, que usa todas as proibições possíveis para não lhe dar oportunidade. Existe um racismo institucionalizado na Alemanha. Folha - A eleição de estrangeiros pode mudar a situação? Stollenwerk - Pode. Estamos jogando com as cartas do jogo deles. A sociedade alemã é orientada para a eficiência e os políticos de origem estrangeira são muito eficientes. Isso dá um respaldo para os outros estrangeiros. Ajuda a evitar a comparação preconceituosa de que o estrangeiro vale menos. Folha - Em que áreas a sra. pretende atuar, caso eleita? Stollenwerk - Naquelas que já conheço. Na área de proteção ao idoso, que é tão mal tratado como qualquer minoria neste país, de proteção à mulher, à criança e, sobretudo, aos estrangeiros. Continua à pág. seguinte Próximo Texto: ONGs exigem fim de interferência chinesa Índice |
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