São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Japão vai na contramão da onda antifumo

USA Today
De Arlington

NICOLA WASSON
DO "USA TODAY", EM TÓQUIO

Os restaurantes e as cantinas das empresas vivem esfumaçados -as pessoas fumam entre um prato e outro. Bitucas brancas se espalham pelas calçadas, como confete. Benvindo à nação dos fumantes.
Mais de um terço da população adulta do Japão é composta de fumantes. Aproximadamente 60% dos homens fumam -a maior porcentagem de todos os países industrializados. Entre as mulheres, 15% fumam, e essa porcentagem está subindo.
Taeko Mori, 28, compra um maço de cigarros por dia. "Antigamente era considerado tabu para uma mulher fumar, mas agora temos mais liberdade", diz ela.
O ano fiscal de 1994 foi o quinto seguido em que as vendas de cigarros aumentaram, segundo o Instituto do Tabaco.
Os fumantes compraram 334,4 bilhões de cigarros -1,8 bilhão mais do que no ano anterior.
"O Japão difere da América do Norte e da Europa -o consumo total de cigarros está crescendo", diz Osamu Fujimori, da Rothmans, fabricante britânica.
Ao mesmo tempo também está aumentando a percepção dos aspectos negativos do cigarro. Mas a percepção não tem nada a ver com saúde, e sim com boas maneiras.
Cartazes pregados nas estações ferroviárias pedem educadamente que as pessoas parem de jogar suas pontas de cigarro no chão.
Os governos municipais estão introduzindo multas por jogar bitucas no chão. Os fabricantes nacionais de cigarros começaram a imprimir nas embalagens um aviso dizendo "Preste atenção a seus modos ao fumar".
Akihito Yuchida, um fumante de 34 anos, diz: "Não ligo para os avisos de que o cigarro faz mal à saúde, mas presto atenção ao outro aviso porque acho muito importante ter bons modos".
Mas o movimento antifumo ainda não chegou ao Japão. Shoppings e estações ferroviárias estão repletos de atraentes outdoors fazendo propaganda de cigarros.
Em todo o país existem cerca de 500 mil máquinas automáticas de venda de cigarros, às quais os adolescentes têm livre acesso.
A norte-americana Diane Barrett mudou-se para Tóquio um ano atrás. Ela não fuma, e quando matriculou-se numa academia de ginástica em seu bairro ficou chocada ao descobrir que a academia tinha sala para fumantes. Para ela, os japoneses não vêem qualquer ligação entre cigarro e saúde.
A receita gerada pelo imposto nacional sobre os cigarros cresceu US$ 128 milhões no ano fiscal de 1994, chegando a US$ 20,7 bilhões. Estima-se que Japão gaste anualmente US$ 350 milhões com problemas de saúde provocados pelo cigarro. Fazer campanha contra o fumo não interessa financeiramente ao governo.
Embora o tabagismo não dê sinais de diminuir no Japão, alguns escritórios e restaurantes estão criando áreas para não-fumantes.
Há vagões de não-fumantes nos trens-bala, e a seção de fumantes no aeroporto internacional de Narita foi reduzida.
Pouco a pouco o espaço está sendo dividido para atender a ambos os grupos. Não por razões de saúde, mas de cortesia. Os japoneses são assim.

Tradução de Clara Allain

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