São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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o olhar dos baixinhos

por Cristina Zahar

CRISTINA ZAHAR
COMO VOCÊ VIABILIZOU O FILME?

A Portland, empresa de cimentos que patrocina a fita, pertence a minha família. A verba veio por meio da lei Rouanet (as empresas abatem imposto ao patrocinar eventos culturais). A gente apresenta o projeto, que passa por duas comissões do governo: uma que cuida do orçamento e outra que cuida da parte literária. Se não for aprovado, nada feito. Acabei dando sorte. Para os documentários "Favelas" e "Velhice", o dinheiro veio da família e de várias outras empresas, por intermédio da lei Sarney. É muito complicado conseguir verba para cinema neste país.
Como você virou cineasta?
Sou economista, tenho até pós-graduação. Quando era criança, meu pai filmava a gente em super-8. Eu o ajudava a montar as fitas, gostava de filmar também. Mas nunca pensei em seguir carreira no cinema.
E essa carreira começou quando?
Fui descobrir minha relação com a imagem há cinco anos. Nasci no Rio, morava lá. Foi quando vim para São Paulo para trabalhar na empresa da família e fazer pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, sobre economia brasileira. Quando estava quase no final do curso, um amigo veio fazer uma entrevista com o jogador Falcão para o programa "Conexão Nacional". Pedi para acompanhar as gravações. Fiquei louco, adorei. Assim que tudo começou: fazendo pesquisa na empresa Metavídeo, para esse programa.
Você se identifica com seus temas?
Quando vivo um favelado ou um anão, acho que trabalho muitas coisas dentro de mim, no sentido psicanalítico. A riqueza do meu trabalho é essa. É uma coisa meio egoísta, que sempre parte de uma curiosidade em relação a um tema. Quando falo dos anões, falo de um certo modo do negro, da mulher, do menor abandonado. Falo sobre a dificuldade de se viver: tudo contra você. Você não consegue subir no ônibus, sentar-se à mesa em um restaurante, falar em um telefone público.
E o público, será que se identifica?
Tem um personagem do "Criaturas que Nasciam em Segredo", o Tatuzinho, que diz que, ao sair na rua, as pessoas tiram sarro. Ele até gosta, porque se sente vivo. Isso é muito triste. Quis que as pessoas sentissem o que ele sente como anão.
E o primeiro longa, está nos planos?
Estou trabalhando sobre um novo tema para fazer um documentário de média-metragem -no máximo 50 minutos. Penso até em assumir o status de documentarista, mas não o documentarista que faz reportagens. Quero fazer documentários poéticos, que tragam a emoção de temas, o sentimento infinito.

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