São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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o olhar dos baixinhos

CRISTINA ZAHAR

Economista que virou cineasta, Chico Teixeira, 37 anos, teve um sonho e resolveu pesquisar sobre o nanismo. Acabou adotando a perspectiva dos anões. O resultado é "Criaturas que Nasciam em Segredo", uma mistura de documento e ficção que ganhou os prêmios de melhor filme e direção na categoria curta-metragem 16 mm do Festival de Gramado. O filme tem 21 minutos e deve entrar em cartaz ainda neste mês. Também foi exibido no Festival Internacional de Curtas, que termina hoje em São Paulo. É o primeiro trabalho de Teixeira em cinema: antes, ele fez dois documentários em vídeo: "Favelas" (1989) e "Velhice" (1990). "Sou um documentarista poético", diz.

Você esperava premiação logo no seu primeiro curta-metragem?
Fiquei muito nervoso. Cheguei ao auditório duas horas antes da projeção. Havia 12 concorrentes na minha categoria, a de curtas 16 mm. Além do meu filme, eram favoritos o documentário da Sandra Werneck sobre a revolta de Canudos, o da Alice Andrade e o do Paulo Sacramento. Quando anunciaram os prêmios, fiquei contente. Afinal, foi meu primeiro filme, meu dente de leite.
De onde veio o tema dos anões?
Antes, já tinha feito dois documentários: um sobre favelas e outro sobre a velhice. Quando você começa a escrever sobre um determinado tema, fica muito atento às coisas. O tema dos anões me veio à cabeça por causa de um sonho que tive, no final de 1993. Sonhei que estava em uma fazenda e tinha um anão que me estendia a mão e dizia: "Venha cá". Morri de medo, pois não sabia se ele era amigo ou não. Analisei o sonho com o meu terapeuta e ficou nisso. Dez dias depois vi a chamada de um documentário do cineasta alemão Werner Herzog sobre os anões. Depois disso, comecei a andar na rua e a encontrar anões.
Daí começou o trabalho de pesquisa.
Pesquisei o tema durante todo o ano de 1994. Meus documentários sempre partem de uma curiosidade minha sobre o tema. Quando eu falo sobre anões quero saber como vive um anão. Isso tem a ver com o meu lado de viver coisas que nunca viveria, se não fosse o filme.
Foi difícil produzir um elenco inteiro de anões?
Comecei fazendo uma pesquisa básica, em jornais e arquivos. Depois, contratei Silvia Espírito Santo, uma pesquisadora da PUC (Pontífice Universidade Católica), para me ajudar. Ela fez a pesquisa mais didática, erudita, nas áreas da psicologia e da antropologia. Eu fiquei com a seleção dos anões. Descobri uma associação circense no Centro de São Paulo. Também visitei a seção que cuida de nanismo no Hospital das Clínicas. Fiz uma lista inicial de 32 anões. Peguei a câmera de vídeo e fui entrevistá-los. Desses 32, selecionei 15. Depois, oito, para finalmente chegar aos cinco atores do filme.
E a parte científica, foi importante?
Muito. O nanismo pode ser genético ou hormonal. A maioria das pessoas pode ter um filho anão, embora a possibilidade seja ínfima. O João e a Ísis, personagens do filme, tiveram duas filhas sem problemas. Já o Nelson Ned teve filhos anões. Esta parte médica me atraiu muito, mas achei que, se aprofundasse isso no filme, ficaria muito pesado. Seria mais uma reportagem. Por isso, centrei forças no lado poético, quis mostrar sentimento. No fundo, quis mostrar às pessoas como é a vida dos anões.

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