São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Religião vira escalada para a riqueza

MARIANA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Edson Celulari, 37, volta à TV para causar polêmica. A partir de terça-feira ele interpreta Dom Mariel, fundador da fictícia igreja evangélica Templo da Divina Chama.
"Quero que 'Decadência' provoque discussões sobre o fanatismo, sobre uma religião que surge imediatista, cheia de promessas e de uma maneira um pouco duvidosa.
Para o ator, o assunto é urgente. "Hoje você tem no Congresso uma bancada imensa de pastores. Eles têm rádio, TV, jornal. Tudo bem, as pessoas têm o direito de se expressar, mas quando isso passa a ser radical e fanático torna-se desmedido. Nós estamos expostos a esse tipo de fanatismo desmedido, diz.
Mariel é um garoto de rua orfão. Um padre católico, Giovani (Cássio Gabus Mendes), o entrega para ser criado por uma família rica.
Ele, então, se apega às pessoas e é tratado como um irmão. Mas, quando cresce, vem o susto. Ele passa a ser o motorista, um empregado.
O conflito se torna ainda maior quando Mariel se apaixona pela caçula da família, Carla (Adriana Esteves), e inicia um relacionamento com ela. A família descobre e o expulsa da casa.
Ele procura o padre Giovani, mas não consegue achar respostas para suas dúvidas. Vai conhecer um templo de uma igreja evangélica. Fica encantado.
As doações fascinam Mariel. "Ele pensa na ligação entre religião e dinheiro. Aí fica dúbio: será que ele entra na religião para ganhar dinheiro ou será que ele tem mesmo uma revelação?, pergunta Celulari.
Para compor o personagem, o ator fez uma pesquisa de campo. "Frequentei, disfarçado para não alterar o que queria ver, diversas tendências: budistas, católicas, evangélicas e protestantes.
Celulari conta que viu pontos bons e maus. Acabou se prendendo ao lado ruim, pois, segundo o ator, Mariel é um mau exemplo de líder e tem seu contraponto na minissérie na figura do pastor Jovildo (Milton Gonçalves).
"Ouvi frases como: alguns impostos exigem 20%, 30% do seu salário; Jesus quer apenas 10% em forma de dízimo para a nossa igreja, comenta.
Mas Celulari admite que não é sempre assim. "No final do milênio, em um momento conturbado de valores e de buscas, os novos modelos causam nas pessoas um estado de desespero que claramente vai acabar na parte religiosa, espiritual.
"Esse programa levanta a questão: será que vale pagar qualquer preço por essa solução? Será que não está dentro da gente? Claro que a orientação é necessária. Mas precisa ter paciência e não entrar em barcas furadas.

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