São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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Diretor 'sempre soube para onde sopra o vento'

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Ontem, na Atlântida; hoje, na Globo -uma vez mais, Roberto Farias, 63, foi parar na usina de sonhos mais poderosa do país. Não tem cinema? Ele caça com minissérie -como seu supervisor global, Carlos Manga, outro trânsfuga da chanchada e também discípulo de Watson Macedo.
Artesão competente, formado na comédia de costumes carioca e em policiais urbanos, Farias foi um dos raros diretores do velho cinema brasileiro metabolizado pelo Cinema Novo. E também um dos poucos a sobreviver à dissolução daquele movimento.
Especializou-se em dirigir ídolos populares (Zé Trindade, Grande Otelo, Ankito, Dercy Gonçalves, Roberto Carlos, Os Trapalhões) e em fazer filmes francamente modelados no figurino hollywoodiano.
Quase sempre soube mais que os outros para onde soprava o vento. No auge dos Beatles, meteu Roberto Carlos em duas aventuras inspiradas em "Socorro!" e nos thrillers de James Bond.
Há 14 anos, quando o cinema-denúncia de Costa-Gavras ainda estava na moda, desceu aos porões da truculência militar, pensando em "Z" e " Confissão". Assim nasceu "Prá Frente, Brasil", crônica dos nossos anos de chumbo, cujas complicações com a Censura só fizeram multiplicar as filas na porta do cinema.
A fotografia foi seu passaporte para o cinema. Ainda vivia em Nova Friburgo, na serra fluminense, quando seu conterrâneo Watson Macedo o convidou para trabalhar como fotógrafo de cena nos estúdios da Atlântida.
Com a desistência de Anselmo Duarte, ascendeu à assistência de direção de José Carlos Burle em "Maior Que o Ódio" (1950).
Sob as ordens de Macedo, J. B. Tanko e, já fora da Atlântida, do argentino Carlos Hugo Christensen, aperfeiçoou-se no "métier". Tinha apenas 26 anos ao estrear na direção, com uma chanchada, "Rico Ri à Toa", seguida de outra, "No Mundo da Lua".
Com o terceiro filme, "Cidade Ameaçada", sobre a vida do marginal paulistano Promessinha, tornou-se, ele próprio, uma promessa, afinal confirmada com "Assalto ao Trem Pagador" (1962), seu melhor filme.
Associado aos irmãos Riva e Reginaldo (o ator, que se assina Faria), criou uma produtora independente em 1963. Pouco depois, fundou, com mais dez cineastas, a primeira distribuidora do Cinema Novo, a Difilm.
Por seu permanente interesse pelas questões pragmáticas da indústria cinematográfica, acabou na presidência da Embrafilme, entre 1974 e 1978. Agora, vai pôr em prática o que há tempos prega como a única saída para a crise do nosso cinema: aliar-se à televisão.

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