São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995 |
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Diretor 'sempre soube para onde sopra o vento'
SÉRGIO AUGUSTO
Artesão competente, formado na comédia de costumes carioca e em policiais urbanos, Farias foi um dos raros diretores do velho cinema brasileiro metabolizado pelo Cinema Novo. E também um dos poucos a sobreviver à dissolução daquele movimento. Especializou-se em dirigir ídolos populares (Zé Trindade, Grande Otelo, Ankito, Dercy Gonçalves, Roberto Carlos, Os Trapalhões) e em fazer filmes francamente modelados no figurino hollywoodiano. Quase sempre soube mais que os outros para onde soprava o vento. No auge dos Beatles, meteu Roberto Carlos em duas aventuras inspiradas em "Socorro!" e nos thrillers de James Bond. Há 14 anos, quando o cinema-denúncia de Costa-Gavras ainda estava na moda, desceu aos porões da truculência militar, pensando em "Z" e " Confissão". Assim nasceu "Prá Frente, Brasil", crônica dos nossos anos de chumbo, cujas complicações com a Censura só fizeram multiplicar as filas na porta do cinema. A fotografia foi seu passaporte para o cinema. Ainda vivia em Nova Friburgo, na serra fluminense, quando seu conterrâneo Watson Macedo o convidou para trabalhar como fotógrafo de cena nos estúdios da Atlântida. Com a desistência de Anselmo Duarte, ascendeu à assistência de direção de José Carlos Burle em "Maior Que o Ódio" (1950). Sob as ordens de Macedo, J. B. Tanko e, já fora da Atlântida, do argentino Carlos Hugo Christensen, aperfeiçoou-se no "métier". Tinha apenas 26 anos ao estrear na direção, com uma chanchada, "Rico Ri à Toa", seguida de outra, "No Mundo da Lua". Com o terceiro filme, "Cidade Ameaçada", sobre a vida do marginal paulistano Promessinha, tornou-se, ele próprio, uma promessa, afinal confirmada com "Assalto ao Trem Pagador" (1962), seu melhor filme. Associado aos irmãos Riva e Reginaldo (o ator, que se assina Faria), criou uma produtora independente em 1963. Pouco depois, fundou, com mais dez cineastas, a primeira distribuidora do Cinema Novo, a Difilm. Por seu permanente interesse pelas questões pragmáticas da indústria cinematográfica, acabou na presidência da Embrafilme, entre 1974 e 1978. Agora, vai pôr em prática o que há tempos prega como a única saída para a crise do nosso cinema: aliar-se à televisão. Texto Anterior: TV uniformiza a narrativa, diz Farias Próximo Texto: Alguns americanos "típicos" Índice |
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