São Paulo, domingo, 3 de setembro de 1995
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TV uniformiza a narrativa, diz Farias

CLÁUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O cineasta Roberto Farias, diretor de "Decadência", afirma que, depois de concluir sua quinta minissérie, jamais voltará a fazer cinema como antes.
Afastado do cinema desde 1987, -quando dirigiu o "Auto da Compadecida", para Os Trapalhões-, Farias, que aprendeu a fazer filmes trabalhando nas chanchadas da Atlântida, traça um paralelo entre as linguagens cinematográfica e televisiva. A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu à Folha.

Folha - Fala-se muito de uma aproximação da linguagem televisiva com a cinematográfica. Você concorda com isso?
Roberto Farias - A TV brasileira, principalmente a Globo, tem um padrão narrativo muito peculiar, mas está ficando cada vez mais semelhante ao do cinema. Alguns diretores estão procurando fazer um trabalho mais autoral, como o Carlos Manga, o Guel Arraes e o Luiz Fernando Carvalho, mas é difícil conseguir isso na televisão.
Folha - Por quê?
Farias - Mesmo os diretores de mais personalidade acabam tendo de se submeter ao caráter coletivo da televisão. A TV uniformiza. A intenção é fazer com que todos os trabalhos fiquem parecendo ser de uma pessoa só.
Folha - Mas, de qualquer maneira, houve uma aproximação das duas linguagens?
Farias - Houve, sem dúvida. Mas a linguagem da televisão só vai poder mesmo se aproximar do cinema na hora em que puder personalizar a direção.
Folha - O sr. está sem filmar desde 1987. Não sente falta de fazer cinema?
Farias - Fazer cinema é algo que me faz falta. Mas acho que sou um sujeito de sorte porque estou na televisão. A TV me exercita e, de certa forma, é parecida com o cinema. De qualquer maneira, me faz falta. Dirigia um filme a cada um ano e meio, antes de assumir a presidência da Embrafilme (em 1974).
Folha - O sr. tem planos de voltar a filmar?
Farias - Tenho, mas a legislação brasileira precisa mudar. Do jeito que está, é muito complicado conseguir recursos. De qualquer maneira, o cinema brasileiro deu uma respirada com o Plano Real. As pessoas passaram a comer melhor e a ver mais filmes.

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