São Paulo, segunda-feira, 4 de setembro de 1995
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Lusos fazem 'clássico de brinquinho'

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Oralilas! Pois não é que foi um clássico do brinquinho, como se previa? Sim, porque os lusos de cá e os de lá praticaram um futebol objetivo, com alguns adereços e lantejoulas, e terminaram por oferecer seis gols -três de cada lado- à meia dúzia de apaixonados que resolveram ir ao estádio, desafiando o clima de chumbo que baixou sobre os campos de Piratininga.
É bem verdade que a Portuguesa foi bem melhor do que o Vasco, ao longo de toda a partida. Desde o início determinou o ritmo do jogo e fincou suas cores no campo adversário, aproveitando-se, sobretudo, das descidas de Zé Maria, pela direita, e de Zé Roberto, estupendo, pela esquerda. Tanto que chegou aos 2 a 0, no primeiro tempo, dando-se ao luxo de desperdiçar mais três chances de ouro.
Acontece que o Vasco é o Vasco e parece estar se especializando nessa história de sair perdendo de 2 a 0 para recuperar-se lá adiante. E foi o que fez, ainda antes do intervalo: duas pontadas, o empate. A virada anunciada estancou na expulsão de Juninho, o que deu liberdade para Zé Roberto disparar pelo meio, passar por meio time vascaíno e disparar um torpedo indefensável, na etapa final. Restou, porém, um fio de suor e sorte para chegar ao heróico empate. Para ambos.

Definitivamente, Corinthians e São Paulo perderam o caminho da vitória. Bem que no sábado ambos acenaram com essa possibilidade. Enquanto o São Paulo metia 1 a 0 no Fluminense, aqui no Morumbi, lá em Niterói o Corinthians repetia o feito sobre o Botafogo, numa belíssima trama executada por Marcelinho, Serginho e Tupã: dois passes rápidos e desconcertantes culminados com um toque preciso para as redes de Wágner. Mas que nada: aqui, logo a seguir, Renato Gaúcho dispara um tiro rasteiro em cobrança de falta, quase da intermediária, que se desvia na barreira e escapa das mãos de Zetti; lá, Marcelinho é expulso por reclamação (dá para acreditar?) e o Bota foi atrás da virada com tudo, ou Túlio, se preferirem: no fim, 2 a 1 para os cariocas.
Pode-se descarregar a culpa na insensatez de Marcelinho ou na inexplicável imprevidência de Zetti em armar sua barreira com apenas quatro jogadores, o que, segundo o saudoso Mário Moraes, sempre foi rematada burrice. Mas seria injusto, senão uma explicação insuficiente. Na verdade, o Corinthians carece de uma reciclagem geral: seus jogadores estão, no mínimo, exasperados, sintoma de cansaço, segundo qualquer manual elementar de preparação física. É hora, pois, de parar, pensar e agir.
Já o São Paulo, apesar da série seguida de três empates insossos, não está tão longe de se armar dignamente, mesmo em meio à competição. Basta que Telê sossegue o pito e mantenha a mesma equipe durante, pelo menos, dois jogos seguidos. O meio-de-campo formado por Alemão, Cerezo (ou Donizete no lugar de um dos geniais velhinhos, se for o caso), Juninho e Denílson é muito interessante. E o ataque, com Catê e Caio, que já fizeram no time do Muricy uma dupla afiada, precisa ser mantido. Só isso. Afinal, Telê sabe, muito antes do que qualquer um de nós, que futebol é conjunto.

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