São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Só 21% dos gastos federais têm concorrência

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo federal tem realizado concorrências públicas para apenas 21,09% dos gastos em compras e contratações de obras e serviços.
O Siafi, sistema informatizado da administração federal, mostra que, de uma despesa total de R$ 4,8 bilhões, somente R$ 1,031 bilhão passou pela competição.
O balanço reúne todas as despesas feitas pelo governo Fernando Henrique desde a posse, em 1º de janeiro, até junho deste ano.
O exemplo mais recente de compra sem concorrência é o caso do pacote de remédios adquirido para as tropas do Exército brasileiro que irão servir em Angola.
Sob a alegação de caso de "emergência", um recurso legal previsto para ser utilizado durante as catástrofes, por exemplo, o Ministério do Exército gastou R$ 10 milhões no seu contrato.
O argumento da emergência virou uma espécie de "indústria" entre os órgãos públicos brasileiros. Na maioria dos casos é uma forma de driblar a lei.
Ao comprar sem concorrência pública, o governo desrespeita uma regra básica de mercado, prevista pela Lei de Licitações: a possibilidade de comprar por um menor preço.
O contrato do Exército com empresas de medicamentos, por exemplo, está sendo investigado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) sob suspeita de superfaturamento.
O balanço do Siafi mostra ainda que a administração federal não tem informações sobre a forma como foram gastos R$ 977,7 milhões. Isso corresponde a 20,06% do total de suas despesas.
Esse dinheiro foi desembolsado por órgãos públicos, empresas estatais e autarquias do governo que não estão integradas ao sistema informatizado, o Siafi.
Sobre esse montante, os técnicos da administração federal ainda não fazem idéia de como tem sido desembolsado.

Média
O secretário-adjunto da Secretaria Federal de Controle, Abeci Carlos Borges, disse que o número de concorrências realizadas atualmente está dentro da média registrada nos últimos dois anos.
Segundo Borges, o fato de não fazer concorrência não significa que o governo esteja ferindo a lei, que prevê outras modalidades para que a administração realize os seus contratos.
Ele cita os empenhos com as pequenas despesas, até R$ 1.600, que estão fora de qualquer tipo de concorrência.
Outros gastos também estão livres: é o que a lei chama de casos de "inexigibilidades".
Esse tipo de despesa atingiu, segundo o Siafi, um total de R$ 1,056 bilhão até junho.
É inexigível uma licitação quando não há possibilidade de disputa no mercado. Exemplo: o governo vai comprar um determinado produto e descobre que existe apenas um fornecedor.
Esse recurso, segundo técnicos do TCU, muitas vezes é utilizado de forma irregular para justificar a preferência por uma firma.

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