São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Exército quer manter acusado de tortura

RUI NOGUEIRA; ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A retirada do coronel Armando Avólio Filho do posto de adido militar na embaixada brasileira em Londres abriu uma disputa entre o Exército e o Itamaraty. Avólio é acusado por organismos de direitos humanos de ter participado de sessões de tortura durante o regime militar (64-85).
O Exército não aceita as acusações e defende o adido. "Ele é um oficial de nível elevado, é um militar da ativa prestigiado e não há documentos que o comprometam", disse ontem o general Rômulo Bini, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército.
O Itamaraty quer a retirada do adido já, antes do prazo final da sua missão, em maio de 96.
Os diplomatas devem ganhar a disputa. A Folha apurou que o presidente Fernando Henrique Cardoso deve ceder ao Ministério das Relações Exteriores -a tendência é que o coronel, que está em Brasília desde ontem, volte a Londres apenas para fazer as malas e regresse ao Brasil.
Por causa da pressão da Anistia Internacional e dos próprios diplomatas, Avólio foi chamado a Brasília para prestar esclarecimentos sobre a sua situação ao Estado-Maior do Exército. Os adidos militares respondem diretamente à 5ª subchefia do Estado-Maior.
O coronel foi exonerado do posto em Londres no dia 1º de junho passado. Tecnicamente, a exoneração foi feita dentro do prazo legal de troca de adidos militares.
Um ano antes de deixar o posto, o Exército anuncia o substituto -no caso de Avólio, ele será substituído pelo coronel Urano Teixeira de Mattos Bacelar.
Ontem, na primeira reunião de avaliação no Estado-Maior, a conclusão foi de que o adido não tem mais clima de trabalho em Londres. O Exército resiste à retirada de Avólio porque ele se considera vítima das acusações e, em conversas reservadas, diz que não está havendo empenho das Forças Armadas em defendê-lo.
Sete ex-presos políticos acusaram o coronel de tê-los torturado no Pelotão de Investigações Criminais na década de 70, no Rio de Janeiro.
O general Bini contesta as acusações do Grupo Tortura Nunca Mais: "O que o grupo diz é que ele foi do Pelotão de Investigações Criminais. E daí? O grupo também incluiu o ex-presidente Ernesto Geisel na lista de torturadores", disse o oficial.

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