São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Filho de ex-governador mata vigia

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O empresário Gustavo Bulhões, 28, filho do ex-governador de Alagoas Geraldo Bulhões (PSC), foi preso ontem em flagrante sob acusação de matar com quatro tiros o vigia Gilson Silva da Rocha, 26.
"Eu tive que atirar porque estava apanhando. Não foi nada premeditado", afirmou Gustavo.
O crime aconteceu às 11h30 no escritório de Gustavo na Gráfica Pégasus, de propriedade de seus pais, que estão separados.
O vigia, que era funcionário da gráfica, morreu meia hora depois no Pronto-Socorro de Maceió.
Estavam na sala, discutindo questões salariais, Rocha e seu irmão Antônio Rocha, também vigia e funcionário da empresa, a gerente da gráfica, Sandra Maria Ferreira de Souza, e Gustavo.
Na versão de Gustavo, ele afirma que foi agredido com socos e pontapés pelos irmãos Rocha, até pegar sua arma, que estava em sua escrivaninha e disparar seis tiros.
Gilson foi atingido por quatro balas. Ele trabalhava para os Bulhões à noite e vendia coco durante o dia. Seu irmão nada sofreu.
Gustavo ficará preso no Instituto São Leonardo enquanto responde a processo, acusado de assassinato. Ele seria transferido ontem.
A discussão ocorreu porque Gustavo teria se recusado a pagar o salário dos vigias. Ele teria reduzido o salário de R$ 75 por quinzena para R$ 44, sem avisar os irmãos, segundo depoimentos.
Com essa nova acusação de crime, Gustavo perdeu o direito a liberdade condicional que tinha há sete meses. Em 94, ele foi condenado em Pernambuco a 12 anos de prisão por tráfico de maconha. Ele responde a outros três processos.
A versão de legítima defesa de Gustavo não foi confirmada pelo irmão do vigia. Antônio Rocha disse ao delegado Nivaldo Aleixo de Barros, 41, responsável pelo inquérito, que Gustavo atacou Gilson após se negar a pagá-los.
"Quando o Gustavo pulou sobre meu irmão e eles caíram no sofá, eu agarrei o patrão pelo pescoço e o tirei dali. Depois ele foi para trás da escrivaninha, pegou o revólver e começou a atirar. Eu saí correndo, pulando dos tiros. Meu irmão chegou todo cheio de sangue no andar de baixo e fui levando ele até a rua", afirmou o vigia.
A gerente Sandra Souza, cujo depoimento é considerado fundamental pelo delegado Barros, não teve condições de depor ontem.
Depois de ficar por mais de duas horas na delegacia, ela entrou em crise nervosa e foi levada para o Hospital de Emergência de Maceió, onde permanecia internada até o início da noite de ontem.
Junto com a pistola Taurus calibre 380 -arma automática que dispara até 12 tiros, semelhante à de calibre 9 mm-, a polícia achou cerca de 50 balas (10 delas para fuzil de uso exclusivo das Forças Armadas), um estojo de granada e um revólver calibre 32.
O único parente a visitar Gustavo na prisão foi o tio Eraldo Bulhões, seu advogado. Ele não quis se pronunciar sobre o caso.
O episódio pode prejudicar a campanha de sua mãe, Denilma Bulhões, à Prefeitura de Maceió (AL). Denilma e o ex-governador Geraldo Bulhões não quiseram falar sobre a prisão de Gustavo.

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