São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Nada mal

LUÍS PAULO ROSENBERG

O Plano Real entra em setembro com garbo de vencedor. Nas contas externas, depois do saldo comercial positivo de julho, teremos a divulgação de outro bom resultado em agosto.
Seriam melhores, não houvesse a absurda imposição da Receita Federal de que os veículos importados, alfandegados nos portos, sejam internalizados e paguem impostos, mesmo que não tenham compradores. Registraremos, portanto, uma importação de automóveis artificialmente inchada, assim como a de petróleo, decorrente do zelo da Petrobrás em se resguardar de uma greve em setembro, mês de negociação salarial.
O importante é que os demais itens da pauta de importação demonstram que estão em queda, enquanto as exportações conseguem sustentar taxas positivas de crescimento. O fluxo financeiro continua positivo, revelando que os investidores estrangeiros apostam cada vez mais no Brasil, apesar dos tributos criados para inibir a entrada excessiva.
Argentina e México vão superando suas dificuldades. Como ameaças externas, resta o temor de que um ciclo de quebra de bancos japoneses jogue o mundo em recessão e a certeza de que a Venezuela, presidida pelo Brizola deles, vai ao calote externo, não se sabe se neste ano ou no início de 96. Preservada a paz nas contas externas, o câmbio pode estabilizar-se, agora em patamares civilizados, ancorando um plano que se defronta com um grau menor de indexação do que o vigente no seu primeiro ano de vida.
Não há pressão inflacionária relevante na economia. Os preços agrícolas continuam bem-comportados, enquanto os industriais e de serviços cedem, como revela o excelente desempenho da Fipe, fechando agosto perto de 1,5%. Se não se elevarem as tarifas de energia, telecomunicações e derivados de petróleo, poderemos chegar a menos de 1% em dezembro, mas aí já seria pedir demais de um governo que zela pelo seu, em detrimento do nosso.
O desaquecimento econômico, pré-recessão tachada de "chuvinha" por quem está sob o abrigo do guarda-chuva do Planalto, massacra os pequenos empresários e supera todos os recordes de falências e concordatas. Sacrifício excessivo, desnecessário, a que se chega não por falta de aviso.
Felizmente, o alívio na política monetária está aí, com a redução dos compulsórios e tributos financeiros e uma queda significativa nos juros logo no início do mês, como sinalizador, esperemos, de mais redução por vir. A proposta de reforma tributária divulgada, ainda que muito mais tímida do que se esperava, traz, no capítulo do Imposto de Renda da pessoa jurídica, um louvável esforço de simplificação e de redução da carga sobre os que hoje pagam, elevando a dos demais.
É verdade que ainda estamos digerindo o desastre político e econômico que foi a intervenção no Econômico. Como é fato que o pau come solto entre os correligionários do presidente. E que ACM está na tocaia, enquanto Sarney declara-se contrário à privatização da Vale. E que o agricultor, descapitalizado, não está plantando, comprometendo já irreversivelmente a próxima safra.
E que continuamos dando um boca-a-boca no protecionismo, aumentando a lista de importações banidas, com a inclusão recente de cadeados, alho e ventiladores. E que tentaram trazer de volta o compulsório, extinguir o sigilo bancário e tributar pesado o capital estrangeiro em Bolsa. Mas também devemos ter um mínimo de tolerância para com os que viveram em cima do muro e, agora, ousam partir para a ação.

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