São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Rodada evita que desinteresse cresça

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a rodada de fim-de-semana foi importante para aumentar o interesse pelo Campeonato Brasileiro. Confesso que já estava ficando meio desesperançoso.
O excesso de jogos (quarta, quinta, sábado, domingo e domingo à noite), os adiamentos de jogos e mudanças no calendário, a violência, a ausência de estádios (em São Paulo), expulsaram os torcedores dos jogos desse Brasileiro.
Os estádios estão de uma tristeza só.
Além disso, com o Paraná Clube e o Fluminense (com a melhor campanha até agora) disparados à frente, o interesse pelo torneio iria diminuir mais ainda.
Mas, as vitórias do Guarani, que reduziu o diferencial em favor do Paraná Clube, do Botafogo e do Palmeiras, recolocando-os no páreo, no Grupo A;
E, no Grupo B, o empate do Fluminense, mais a subida no cotação do Internacional, com o Vasco correndo por fora, deram um novo alento ao que parecia irremediavelmente perdido.
Só falta chamar o público.

Pelos meus cálculos, os prejuízos dos clubes, nessas cinco primeiras rodadas do Brasileiro, é imenso -e sem perspectiva de reversão do quadro em curto prazo.
Já tem time com salário atrasado. Até agora, não se sabe por qual milagre, a qualidade do futebol brasileiro ainda se preserva, apesar das sucessiva crises.
Mas, não há alternativa: com a crise econômica, a decadência futebolística virá. Sem pressa, mas que virá, virá.

Na hora em que o mundo do esporte, chocado com a violência entre a juventude nos estádios de futebol, se mobiliza para tentar acabar de vez com o extermínio sistemático de jovens, uma pessoa com incontida vocação autoritária usa seu espaço em um suplemento dedicado a jovens para sugerir um ato de violência contra a atriz Regina Casé, justamente por ela ser o que ela é: uma portadora da alegria na sociedade brasileira.
Não adianta o jornalismo lutar contra a censura e a violência, se ele preservar dentro dele pessoas com a disposição de incitar o uso da força para calar os outros. Pessoas que usam a liberdade de se expressar que lhes é concedida para macular toda uma outra parte da categoria que luta para fazer desta profissão algo ético, digno e capaz de auxiliar na reestruturação da sociedade brasileira.
Pessoas que machucam o trabalho daqueles que se empenham em fazer da imprensa uma possibilidade de convívio democrático, onde as divergências possam ser respeitadas, sem que uns sobrevivam às custas do silêncio do outro.
Regina Casé é a mais legítima herdeira da tradição dos melhores atores brasileiros, dos teatros de circo, passando pela chanchada e chegando ao Asdrúbal. Regina Casé é vida. Regina Casé é gol. Aqueles que expressariam melhor os seus impulsos autoritários vestindo a camisa das torcidas organizadas do que usando a fantasia de jornalista, não terão força para diminuí-la. A alegria é arma mais forte.

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