São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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O mão santa

FÁBIO SORMANI

Prometi na semana passada que hoje escreveria sobre Oscar Schmidt. E promessa é dívida.
Poderia falar sobre o talento que se distribui em seus 2,04 m de altura e 105 quilos; de seus 6.861 pontos vestindo a camisa 14 da seleção brasileira em 292 jogos (média de 23,5 por partida); de suas conquistas memoráveis (como a dos Jogos Pan-Americanos de 87).
Em vez disso, escrevo para lembrar que o Mão Santa (apelido que ganhou por causa de seus arremessos certeiros) volta ao Brasil depois de 13 anos na Europa para enfrentar o maior desafio de sua carreira: reerguer o basquete brasileiro.
Isso, aos 37 anos -quando ele devia estar pensando em curtir a vida com a família e em brincar de jogar basquete, sua grande paixão.
Oscar terá, pois, de ignorar as possíveis dificuldades impostas pela idade e novamente entrar em quadra como sempre o fez durante toda sua carreira: cheio de garra e energia para tentar dobrar esse inimigo cruel.
Vamos, pois, ao desafio...
Penso que ele é exatamente como um jogo de basquete, dividido em dois tempos. O primeiro, acredite, já aconteceu e felizmente foi vencido por Oscar. Quando? Ora, quando ele conduziu o time brasileiro a uma vaga a Atlanta, em 96 -no que pouca gente acreditava. Sem Oscar, creia, o Brasil estaria agora chupando o dedo.
O adversário do primeiro tempo, porém, era um velho conhecido do nosso Mão Santa -bem como as regras do jogo também: eram equipes de basquete, pura e simplesmente, que ele se acostumou a derrubar, uma a uma, através dos tempos.
As dificuldades, no entanto, aparecerão no tempo derradeiro desse desafio, porque o oponente é outro, bem mais complexo e difícil de ser batido: os dirigentes brasileiros.
O que Oscar pode fazer para vencer um adversário que: a) marca jogos de campeonatos para as 21h, dificultando o trabalho da imprensa e a ida dos torcedores aos ginásios? b) que encavala os jogos da Liga Nacional com os dos campeonatos regionais, confundindo torcedores e desgastando os jogadores? c) que aperta o calendário e deixa a seleção brasileira sem datas para se exercitar rumo aos Jogos Olímpicos de Atlanta? d) que destrói literalmente ginásios de basquete?
Será que Oscar conseguirá vencer esse derradeiro adversário? Só o tempo dirá o resultado da partida...

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