São Paulo, terça-feira, 5 de setembro de 1995
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Itália e Cuba oferecem 'civismo engajado'

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

O engajamento cívico marcou os dois principais concorrentes em Veneza no último fim-de-semana. O cubano "Guantanamera" traz de volta a dupla Tomas Gutierrez Alea-Juan Carlos Tabío ("Morango e Chocolate") em nova radiografia bem-humorada da crise na Cuba de Fidel.
Já "Pasolini - Um Delito Italiano", de Marco Tullio Giordana, reabre a discussão sobre o assassinato há dez anos do escritor e cineasta de "Teorema".
Não empolgaram mas elevaram nitidamente a média da disputa.
"Guantanamera" é uma espécie de versão fílmica do repentismo radiofônico de Joseito Fernandez na Cuba dos anos 50. Diariamente o cantor e compositor satirizava as manchetes de jornais com improvisos em cima da célebre canção "Guajira Guantanamera".
Alea e Tabío resgatam a experiência, adaptando-a para o cinema e para o chamado "período especial" atravessado pela ilha.
A canção funciona como comentário de amarração dos diversos fragmentos deste "road movie" que se passa entre Guantanamo e Havana.
Um cortejo fúnebre e um caminhão de cargas são o foco principal. O primeiro testa um novo esquema governamental para driblar o racionamento de combustível. O segundo faz a rota de sempre. Entre os viajantes, protagonistas de dois amores adiados.
Enquanto um dos amores se consome (pela idade) e o outro se consuma (na estrada), a caravana flagra a batalha do "jeitinho" cubano contra o desabastecimento do "período especial". O resultado é simpático mas irregular.
Também "Pasolini - Um Delito Italiano" é um filme com causa. Marco Tullio Giordana está na direção adaptando seu livro homônimo. Objetivo: reabrir o caso do assassinato de Pier Paolo Pasolini, que completa duas décadas no próximo 2 de novembro. Tese: o crime "homossexual", cometido pelo garoto de programas Pino Pelosi, já condenando, foi na verdade um crime político, com a participação de outras pessoas, que escaparam ilesas.
Giordana poderia ter batizado seu filme de "PPP", de tal forma sua estrutura é decalcada em "JFK" de Oliver Stone. Falta-lhe contudo a competência de Stone para manipular imagens através da montagem. "Pasolini" resulta um filme simples, centrado na apresentação de indícios no tribunal que condenou Pelosi e que reconheceu a possível existência de comparsas, logo esquecidos pela justiça e pela história oficial.
Boas intenções não resultam necessariamente em grandes filmes. Neste "Pasolini", a forma desnata o conteúdo.

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