São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995 |
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"O Judeu" estréia em mostra de Lisboa
JAIR RATTNER
Dirigido por Jom Tob Azulay, o filme conta a história de Antônio José da Silva (o judeu), o maior dramaturgo de língua portuguesa do século 18. Nascido no Brasil em 1705, Antônio José foi queimado num auto-de-fé em Lisboa em 1739. "O filme me fez resgatar uma herança do judaísmo português", conta Azulay. Com roteiro de Millôr Fernandes, Geraldo Carneiro e Gilvan Pereira, o filme começa com a prisão de Antônio José, acusado junto com sua mãe e sua mulher de heresia judaizante, e vai até o auto-de-fé. A história apresenta flashbacks da infância, do primeiro processo da inquisição em que Antônio José foi condenado e das peças de teatro criadas por ele. Os atrasos na conclusão do filme começaram com a falta de dinheiro da parte brasileira. A Embrafilme deveria entrar com 50% do orçamento previsto, US$ 1 milhão, mas a variação do câmbio do dólar impediu que todo o dinheiro chegasse a Portugal. Quando o filme foi interrompido pela primeira vez, em 88, as dívidas acumuladas atingiam US$ 300 mil. A outra metade do orçamento foi responsabilidade da produtora portuguesa Animatógrafo. As filmagens deveriam recomeçar em 89, mas a extinção da Embrafilme impediu a continuação do projeto. Nessa época o filme passou a ser propriedade da Secretaria da Fazenda. Azulay também teve que contornar a falta de dois dos atores principais, que morreram: Felipe Pinheiro, que representou a personagem de Antônio José da Silva, e Dina Sfat, que fazia sua mãe, Lurença Coutinho. Para a atriz Fernanda Torres, que representou Leonor de Carvalho, a mulher de Antônio José da Silva, parecia que era um filme maldito. "Tinha uma hora que eu achei que a próxima a morrer seria eu", contou a atriz em abril. O filme também conta com José Lewgoy, no papel de inquisidor-mor. As filmagens foram retomadas no ano passado e a edição foi concluída este ano. A exibição de "O Judeu" é a principal atração da mostra de cinema que comemora a semana da pátria, o primeiro projeto cultural do embaixador Itamar Franco em Portugal. De 7 até 10 de setembro, a embaixada do Brasil vai ocupar o cinema Tivoli, uma das salas mais tradicionais de Lisboa. Na mostra, serão apresentados seis filmes, três brasileiros, um da Guiné Bissau, um português e outro moçambicano. Além de "O Judeu", vão estar mais dois filmes feitos este ano: "Quatrilho", de Fábio Barreto, e "O Menino Maluquinho", de Helvécio Ratton. Também serão exibidos os filmes "Os Olhos Azuis de Yonta", dirigido por Flora Gomes e considerado o melhor filme da história de Guiné-Bissau, "Carga Infernal", de Fernando D'Almeida e Silva e "Música, Moçambique", de José Fonseca e Costa. Texto Anterior: 'Variety' publica lista de maiores conglomerados do setor audiovisual Próximo Texto: Filme tira Hollywood gay do armário Índice |
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