São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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Marinha comemora verbas; FHC nega privilégio a militar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Marinha, Mauro César Pereira, disse ontem que os recursos destinados pelo governo aos investimentos na área de defesa nacional nos próximos quatro anos são "quase o paraíso".
Pereira comentava os R$ 5,6 bilhões destinados pelo Plano Plurianual (PPA) para os ministérios militares. "Resolver o problema não resolve, mas considerando a míngua em que vivemos até agora, isso é quase o paraíso", disse.
Os investimentos na área militar no PPA são maiores do que os previstos para educação (R$ 4,9 bilhões) e saúde (R$ 4,5 bilhões), conforme revelou a Folha ontem.
As declarações de Pereira foram feitas durante a sessão conjunta das comissões da Câmara de Defesa Nacional e Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias.
A euforia do ministro da Marinha teve como contraponto o presidente da República. Fernando Henrique Cardoso, durante visita a instalações da Aeronáutica, tentou negar a revelação da Folha sobre o privilégio dado aos programas militares em detrimento da área social nos investimentos previstos pelo governo até 1999.
Segundo FHC, a informação da Folha, baseada em documento divulgado pelo próprio Palácio do Planalto, "é uma invenção pura".
"Não sei de onde vocês (da Folha) tiraram esses dados. Se fossem verdadeiros, eles (os militares) não estariam pedindo tanto recurso, a todo instante", declarou.
Para rebater os dados sobre o favorecimento aos projetos de defesa nacional, o presidente lançou mão de números sobre gastos totais na saúde -incluindo não só investimentos, mas também verbas de custeio e com pagamentos de consultas hospitalares. "Só em saúde, sozinha, vou gastar R$ 700 milhões mensais este ano", disse.
O ministro da Aeronáutica, Mauro José Gandra, que acompanhava FHC na visita, disse ter ouvido do presidente "que houve um erro de contabilidade". Segundo o ministro, se os números divulgados fossem verdadeiros, "eu até poderia dizer que seria um sonho. E eu acho que realmente é".
"Mesmo como militar, acho que não deva ser feito assim. Afinal, temos um país com muitas dificuldades sociais e deve haver um equilíbrio entre a defesa da nação e os problemas de desigualdades sociais", afirmou o ministro.
As tabelas do PPA, com o dinheiro a ser aplicado em iniciativas prioritárias do governo no período entre 1996 e 1999, não foram alteradas ontem pelo Ministério do Planejamento, responsável pela elaboração do projeto.
Os R$ 5,6 bilhões destinados a investimentos na área militar não tiveram sua aplicação detalhada. O documento do ministério apenas relaciona oito prioridades genéricas na área de defesa nacional.
Entre elas estão a implantação do sistema de comunicações militares por satélite, estruturação de força de paz permanente e de pronto emprego no Exército e na Marinha, reforço da presença militar na Amazônia e aumento da eficácia do sistema de defesa aérea.
A área militar receberá mais R$ 4,9 bilhões para outros programas, de acordo com PPA. Essas verbas não incluem gastos com pagamento de pessoal nem administrativos.
O porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, disse que os números publicados pela Folha são corretos. "A forma como eles foram apresentados é que induz a uma interpretação equivocada".
Amaral insistiu que os gastos de investimento destinam-se apenas a obras físicas. "Não há nenhuma dúvida que em obras civis a área militar terá mais recursos do que a educação e a saúde", disse.
Mas ressalvou: "Não se pode tomar como indicador em área social apenas obras físicas, porque na área social não basta construir pontes ou obras físicas".

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