São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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O modelo elétrico

LUÍS NASSIF
O MODELO ELÉTRICO

Falta um debate mais aberto sobre o modelo elétrico paulista antes que se dê início à privatização do setor. A opinião é de sindicalistas e de funcionários aposentados das Cesp (Centrais Elétricas de São Paulo), que se uniram para apresentar à coluna conclusões conjuntas sobre a questão. Queixam-se eles da falta de um documento oficial sobre a proposta de privatização que possa ser discutido, questionado ou aprimorado.
A coluna já apresentou as linhas gerais do modelo proposto pelo governo paulista. Tomam-se as três grandes empresas paulistas de energia -Cesp, Eletropaulo e CPFL- para subdividi-las em grupos de empresas não-verticalizadas. Isto é, empresas especializadas exclusivamente em geração, transmissão ou distribuição de energia.
Esse modelo facilitaria a privatização e aumentaria o valor das empresas, segundo o secretário de Energia paulista, David Zylbersztajn.
O grupo julga que o modelo proposto obedeceu exclusivamente à lógica financeira de valorizar o patrimônio para futura privatização e amortização das dívidas do Estado, descuidando-se de aspectos técnicos relevantes.

Integração
Além de pagar as dívidas do Estado, o desenho proposto por Zylbersztajn visa criar um modelo competitivo, onde produtores possam disputar mercado.
O grupo julga que o modelo competitivo só é eficiente para outras formas de energia -como termoelétricas e gás-, mas não se aplicaria para a energia hidráulica, que exigiria um sistema mais integrado.
Em um rio, explicam eles, há usinas que dependem basicamente de outras. Se uma usina produzir a mais, reduz a vazão do rio, impedindo que a usina abaixo possa produzir. Há casos em que, por razões de vazão, o governo é obrigado a paralisar a produção de determinada usina.
Dentro de um ambiente não-regulado, o que impediria a usina A de sufocar a usina B por meio da redução da vazão do rio?
Há outras ressalvas contra o modelo proposto. Internacionalmente, a energia hidráulica sempre foi bancada pelo Estado, devido à necessidade de capital intensivo e longo prazo de maturação dos investimentos. A privatização das usinas já existentes significará desviar capital privado de investimentos que poderiam significar a ampliação efetiva da oferta de energia, dizem eles.
Por isso, o grupo propõe a manutenção do atual modelo elétrico -que conseguiu atender bem São Paulo nas últimas décadas- e a captação de capital privado, ou para completar obras já existentes, ou para novos investimentos, em setores mais adequados -como gás e termoelétricas, por exemplo.
Trata-se de uma posição a mais no debate. O importante é que todos os lados sejam ouvidos antes de se alterar área vital para o desenvolvimento do país.

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