São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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Vantagens do tiroteio

O tiroteio verbal entre lideranças do PSDB e do PFL soa muito mais a intriga do que a uma disputa em torno de idéias, programas ou algo do gênero. Não obstante, pode acabar tendo um efeito positivo, qual seja, o de permitir que o presidente da República, prisioneiro de uma maioria parlamentar instável, amplie o seu espaço de manobra.
Até agora, Fernando Henrique ficou muito dependente do PFL, por ser o partido mais numeroso de sua base parlamentar, se se excluir um PMDB pouco confiável, por excessivamente fragmentado.
O presidente pode até não concordar com as seguidas críticas ao PFL que vem fazendo o ministro Sérgio Motta, um de seus íntimos. Mas o fato de não desautorizá-lo funciona como um endosso.
Parece igualmente uma forma de dizer que, embora tenham sido aliados na campanha eleitoral, há distâncias entre a social-democracia que FHC pretende continuar representando e o liberalismo de que o PFL se diz o expoente principal.
Ao estimular a fusão PPR/PP, da qual se propôs até a ser "padrinho", e ao convocar os demais partidos, sem distinção alguma, a apoiá-lo, o presidente pode criar espaço para aprovação no Parlamento de iniciativas que sejam eventualmente combatidas, não pelo PFL como um todo, mas por alguns de seus parlamentares.
Funcionaria como compensação para qualquer defecção em uma base política pouco sólida. Mas é também um jogo arriscado. O presidente se verá obrigado a negociar apoios caso a caso, o que é sempre bem mais desgastante.

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