São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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Pós-graduação no exterior: problema ou solução?

RUBENS ANTONIO BARBOSA

A Grã-Bretanha é o segundo país do mundo com maior número de estudantes universitários brasileiros, que em geral aqui completam o curso de doutorado. São cerca de 740 estudantes em todo o país, que se concentram nas áreas de informática e bioquímica, financiados sobretudo pelo CNPq e pela Capes.
Nos contatos diretos que venho mantendo com os estudantes brasileiros que realizam pesquisas nas grandes universidades da Grã-Bretanha, tenho observado que, embora satisfeitos por desenvolverem trabalhos científicos nas instituições de alto nível do país, alguns estudantes referem-se a questões que precisam ser examinadas.
Uma dessas questões é a da volta do estudante ao Brasil. A maioria dos pós-graduados, terminado o curso, procurará um emprego no Brasil, onde poderá eventualmente desenvolver o resultado prático da pesquisa que, ao longo de no mínimo três anos, realizou no exterior. Não se pode desperdiçar o financiamento governamental dos estudos do recém-formado pós-graduado que, só na Grã-Bretanha, no último ano, representou perto de US$ 12 milhões.
Torna-se imperioso que seja desenvolvida ação para atrair o estudante de volta ao seu país com a perspectiva de um emprego onde possa continuar suas pesquisas, ou aplicar seus conhecimentos. Por isso mesmo, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Ciência e Tecnologia lançaram este ano o "Programa de Estímulo ao Retorno de Talentos" (Pert), que contou com expressiva participação dos estudantes brasileiros no Reino Unido.
O principal objetivo do Pert é proporcionar a esse estudante visitas e estágios em instituições públicas e privadas do Brasil para futuro aproveitamento profissional.
Muitos estudantes, já formados, desenvolvem pesquisas importantes em laboratórios e companhias britânicas e já perceberam que, na Grã-Bretanha, a ligação entre universidade e empresa tem produzido expressivos resultados.
Por isso mesmo, as relações entre o Brasil e a Grã-Bretanha no campo da ciência e tecnologia têm sido caracterizadas por esse aspecto de integração entre a academia e a produção industrial. A embaixada em Londres está acompanhando e estimulando o processo de transferência tecnológica que começa a se estabelecer entre os dois países.
Recentemente, o presidente do CNPq, José Galizia Tundisi, que, assim como o ministro da Ciência e Tecnologia, fez seu doutorado no Reino Unido, manteve contatos com instituições de ciência e tecnologia, visitou "parques tecnológicos" e viu de perto a promoção de iniciativas empresariais baseadas em pesquisa universitária. O incentivo do intercâmbio dessas informações, a fim de que se aperfeiçoe o mesmo sistema no Brasil, é um dos objetivos dessa cooperação.
Os primeiros passos rumo a essa cooperação já foram dados: em maio, foi organizada em Curitiba a Conferência Anglo-Brasileira Sobre Inovação e Transferência Tecnológica. O sucesso da conferência despertou a atenção do British Council para as oportunidades econômicas de uma área potencializada pelo Mercosul. Por fim, o secretário da Ciência e Tecnologia do Paraná, Alexandre Beltrão, acaba de confirmar a abertura em outubro de um escritório do British Council em Curitiba.
Para o mesmo mês está prevista a realização do Seminário de Cooperação Tecnológica Brasil-Reino Unido. Com a frequência desses contatos, será possível encontrar a solução para outras questões, todas de grande interesse para o país e para os estudantes, como o da cobrança das altas anuidades e o da garantia da propriedade intelectual.
Por outro lado, devemos valorizar o conhecimento dos estudantes e procurar remunerar as instituições financiadoras através do reconhecimento do direito de patente dos estudantes de pós-graduação no exterior. O Reino Unido ainda não reconhece os direitos de propriedade intelectual de um estudante brasileiro sobre os resultados de pesquisas e de publicação.
Vinte e sete universidades do Brasil e outras 27 do Reino Unido já assinaram um acordo, em 1994, assegurando o direito de propriedade intelectual aos estudantes -com a ressalva de que esses pedidos sejam estudados caso a caso. É nossa tarefa tornar automática a garantia desse direito e estendê-la a outras universidades importantes, como Oxford e Cambridge, que ainda não participam do acordo.
Para melhorar o custo/benefício desse intercâmbio em pós-graduação, o governo está buscando a redução das taxas de inscrição em universidades britânicas, assim como a possibilidade de que, em contrapartida a esse pagamento, através de convênios entre universidades, sejam doados materiais e equipamentos, bem como enviados peritos britânicos para prestação de consultoria junto às universidades no Brasil.
Essas seriam medidas importantes num campo que se mostra cada vez mais atraente e dinâmico, para manter o interesse dos estudantes brasileiros no aperfeiçoamento externo com significativos ganhos para o país.

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