São Paulo, quinta-feira, 7 de setembro de 1995
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Cidade quer ser a Hollywood asiática

DO "LE MONDE"

Em 1966, a mulher de Mao, Jiang Qing, antiga atriz dos anos 30, tomou o destino do cinema chinês em suas mãos em nome da Revolução Cultural e, durante dez anos sombrios, ser cineasta na China tornou-se não apenas difícil, mas até perigoso.
Hoje, fala-se em cineastas da quinta geração para designar aqueles que nasceram no início dos anos 50, viveram a Revolução Cultural e foram enviados ao campo depois de se formarem no Instituto do Cinema, em Pequim.
E, nos anos 80, produziram toda uma série de obras originais e fortes que marcaram a renovação do cinema chinês: Chen Kaige ("Adeus Minha Concubina"), Zhang Yimou ("O Sorgo Vermelho", "Lanternas Vermelhas", "Viver"), Tian Zhuangzhuang ("O Ladrão de Cavalos"), para citar apenas os mais conhecidos fora da China.
O sabor das homenagens e do reconhecimento estrangeiro desagradaram a alguns, mas, depois de tantos anos obscuros, é uma revanche mais do que merecida.
O cinema de Chen Kaige não deixa de ter ênfases hollywoodianas, e ele já foi acusado disso, especialmente em "Adeus Minha Concubina".
Para conseguir se fazer aceitar no exterior, às vezes é preciso vender um pouco da própria alma. As autoridades do Bureau de Cinema, que afirmam haver "passado por cima" da quinta geração, que preferiu filmar no interior em vez de em Xangai, não querem perder o trem da sexta.
Uma geração perplexa e sem pontos de referência, que não viveu a Revolução Cultural e não sabe muito bem para onde vai, nem por que. Uma canção de rock -pois o rock chinês existe, especialmente o grupo Puma Negro, muito diferente do rock de Hong Kong- diz em seu refrão: "O mundo exterior muda tão rápido que eu não consigo entender".
Na falta de uma mensagem, essa sexta geração segue o mandamento geral que parece haver tomado o lugar dos horizontes comunistas: façam cinema comercial, divertimento, grana.
Em 1993, a Prefeitura de Xangai organizou um festival internacional de cinema que simbolizava sua vontade de voltar ao primeiro plano dos intercâmbios internacionais. A segunda edição acontecerá em outubro e novembro deste ano.
A produção dos jovens cineastas novos será então avaliada. O que se espera é que, em breve, Xangai seja a contrapartida de Hollywood na costa leste do Pacífico.

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