São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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Família de Jáder tem 10 concessões no PA

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma em cada sete concessões de radiodifusão existentes no Estado do Pará está registrada em nome da família do senador Jáder Barbalho (PMDB-PA). No total, são dez concessões: três rádios FM, quatro rádios AM e três concessões de TV.
Apenas uma das 10 concessões está em nome do Jáder Barbalho. As demais figuram no cadastro do governo em nome de sua ex-mulher, a deputada federal Terezinha Elcione Barbalho (PMDB-PA), e de seu irmão, Luiz Guilherme.
Ao ser procurada pela Folha, a deputada disse nada saber sobre os negócios de Jáder Barbalho: "Fiquei casada com o senador, em regime de comunhão de bens, durante 20 anos e, você sabe, é comum os maridos registrarem negócios em nome de suas mulheres".
Pelo cadastro do Ministério das Comunicações, em Belém (capital do Estado), os Barbalho possuem duas concessões de rádio FM, duas de AM e duas de televisão.
O senador não deu entrevista sobre o assunto porque, segundo seu assessor, Luis Terra, ele se encontrava incomunicável em uma fazenda no interior do Pará.
A deputada Elcione Barbalho afirma que não sabe em que condições as concessões foram obtidas.
O caso de Jader Barbalho chama a atenção pela concentração de concessões liberadas para uma única família, mas não é exceção.
Em Rondônia, o também senador Odacir Soares (PFL), tem oito concessões registradas em seu nome ou da mulher, Odalea Soares.
Pelos dados oficiais do governo, existem 45 concessões de radiodifusão em Rondônia, o que significa que uma em cada cinco autorizações dadas até hoje foram destinadas a uma única família.
No caso de Rondônia, há uma peculiaridade adicional: o ex-secretário executivo do Ministério das Comunicações Rômulo Villar Furtado é proprietário, de fato, de 12 concessões (oito de rádios e quatro de TVs), o que significa que ele controla mais de um quarto das concessões no Estado.
O ex-deputado Antônio Morimoto é outro campeão em Rondônia: seis concessões registradas em seu nome, segundo os dados do próprio governo. Vale dizer que os três, juntos, têm hoje mais de metade das concessões dadas até agora para o Estado.
A alta concentração em Rondônia só foi possível porque o poder político também era concentrado. Nas regiões com maior diversidade de grupos políticos, as concessões foram dadas de modo a não desagradar grupos influentes.
O Estado do Rio Grande do Norte é exemplo desse fenômeno. Segundo estudo feito por Paulino Motter, professor da Universidade Nacional de Brasília, o "Diário Oficial da União" trouxe três concessões de TV para o Estado.
A primeira, para a TV Cabugi, foi dada ao então ministro de Administração, Aluizio Alves, que tinha como sócios os ex-deputados Ismael Wanderley Filho e Henrique Lira Filho, ambos do PMDB.
A segunda emissora de televisão, TV Tropical, foi dada ao senador José Agripino Maia (PFL), adversário de Aluizio Alves.
A família de Geraldo Melo, outra força política do Estado (governou o Rio Grande do Norte de 1987 a 90) ganhou a TV Potengi.
Segundo o estudo de Paulino Motter, Geraldo Melo (à época no PMDB, hoje no PSDB)) ganhou ainda uma rádio no interior: Rádio Novos Tempos (AM), na cidade de Ceará-Mirim, concedida 17 dias depois de publicadas as concessões das TVs.

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