São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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Brasil é o 7º pior país no número de analfabetos

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil não tem o que comemorar hoje, Dia Internacional da Alfabetização das Nações Unidas. A nona economia do mundo deve chegar ao ano 2000 ainda em sétimo lugar entre os países com maior número de analfabetos.
Além disso, os brasileiros descumprirão o artigo 60 das Disposições Transitórias da Constituição, que determina que o Poder Público deve "eliminar a taxa de analfabetismo" até 1998.
A novidade nesta última década do milênio na área de alfabetização no Brasil é a inexistência de qualquer grande programa voltado para jovens e adultos iletrados, como o Mobral dos anos 70.
"Há um problema de disponibilidade de recursos e de prioridades", afirma a vice-reitora da USP (Universidade de São Paulo) e ex-diretora da Faculdade de Educação, Myrian Krasilchik.
"A prioridade hoje é que se evite o aumento da população de analfabetos, com investimentos no ensino fundamental (o 1º grau)."
Essa é a idéia mais disseminada hoje entre praticamente todos os que lidam com educação: já que o país dispõe de poucos recursos para investir em educação, deve-se, pelo menos, "fechar a torneira" do analfabetismo, ou seja, oferecer ensino a todas as crianças.
Com o tempo, os analfabetos já adultos vão desaparecendo, pois envelhecem e morrem. A queda de analfabetismo no país ocorrida nas últimas décadas -em que se ampliou a oferta de ensino fundamental público- mostra que esse raciocínio tem a sua lógica.
Alguns iletrados poderão ainda se alfabetizar em um dos diversos pequenos programas espalhados pelo país, em geral mantidos por entidades não diretamente ligadas ao governo (leia texto ao lado).
A previsão do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é que só no ano 2030 o Brasil conseguirá erradicar totalmente o analfabetismo.
Hoje, o índice oficial de analfabetos no país é de 20,07%, ou 19.233.758 pessoas (com mais de 15 anos de idade). Os dados são do último censo do IBGE, feito em 1991.
Com isso, o país contribui com 2% da população mundial analfabeta. Juntos, os dez países com mais analfabetos contribuem com 75% dos iletrados do mundo.
Mas qualquer especialista da área questiona também esses dados. Enquanto o critério de alfabetizado do IBGE é "saber ler e escrever um bilhete simples", o mais aceito entre educadores é ter, no mínimo, cinco anos de educação formal.
"Há mais de 40 milhões de pessoas analfabetas por esse critério", afirma Sérgio Haddad, diretor-executivo da Ação Educativa, uma organização não-governamental criada no início de 1994.

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