São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995 |
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Afinal, os juros estão caros?
VALTER CELIO BRANCO FONSECA O processo inflacionário brasileiro, com mais de 30 anos de duração, fez com que as pessoas perdessem a referência do que é uma taxa nominal de juros decente, o que num país civilizado, não chega a 20% ao ano.Algumas discussões tentam concluir se o Brasil tem a primeira ou a segunda maior taxa de juros do mundo. Independente de nossa posição no "ranking" mundial, temos que o mais importante é entender de quanto estamos falando. No início da década de 60, uma pessoa que emprestasse dinheiro a 8% ao mês, era considerada um agiota. Hoje um banco de primeira linha presta o mesmo serviço, sob o título de "cheque especial", praticando uma taxa de juros efetiva que pode passar de 18% ao mês, e é absolutamente legal! Atualmente apenas grandes empresas têm acesso a dinheiro barato (menos de 3% ao mês), em operações estruturadas complexas, transações ao amparo da resolução 63 do Banco Central, ou ainda operações longamente negociadas em entidades oficiais como BNDES e Finep. Pequenas e médias empresas estão limitadas a operações de desconto de duplicatas, em bancos e empresas de factoring. Aliás, as empresas de factoring só prosperaram porque o crédito bancário está contingenciado. Cheques especiais e cartões de crédito são as únicas formas de financiamento de médio e longo prazo para pequenos empresários e pessoas físicas empregadas. Quem não tem acesso a essa "privilegiada" fonte de financiamento entra num mundo de clandestinidade, onde a taxa efetiva pode atingir 50% ao mês; os anúncios destas barbaridades estão na seção de classificados dos grandes jornais, para quem quiser conferir. O que as pessoas muitas vezes não têm consciência é quanto à implicação disso a médio e longo prazo. Uma taxa de juros de 16,5% ao mês, significa uma taxa anual de 525%; ao descontarmos uma expectativa inflacionária de 25%, teremos o astronômico montante de 400%, enquanto que em uma economia de primeiro mundo o juro real anual não é muito diferente de 4%. Uma outra visão da mesma situação é a de que se um cidadão toma um empréstimo equivalente a um salário, ao cabo de um ano ele estará devendo cinco salários, atualizado por todo IPC-r a que ele tiver direito. A conclusão lógica é que nunca mais irá pagar esta dívida. Quando uma pessoa ou entidade toma um empréstimo para fazer um investimento, o embasamento econômico é que essa pessoa ou entidade irá dividir com quem lhe financiou, os lucros deste investimento. Que investimento permite um retorno superior a 400% reais ao ano? Provavelmente nem droga! Quando uma empresa apresenta um retorno anual na faixa de 15% a 25%, ela é considerada saudável e lucrativa. A distância entre estas taxas é tão grande quanto os extremos da curva de distribuição de renda no Brasil; o fato que ora discutimos alimenta o processo. Para melhor entendermos o que é retorno, tomemos o exemplo da cultura pecuária, que é considerada um bom negócio. A partir da premissa de que uma vaca gera um bezerro em um ano, alguém menos avisado poderia falar em retorno de 100%. Só que além da vaca, é preciso sêmen de boi, ração, vacina, terra, ativo fixo, cuidados adequados e tempo; aí boa parte dos 100% já foi para o ralo, e será um milagre se ainda sobrar pelo menos 15%. Durante o período de transição para a democracia vivido recentemente, existia uma grande discussão entre o que era legal e o que era legítimo nas coisas do Brasil. Parece-nos que o tema não foi completamente esgotado. Texto Anterior: Reflexões sobre o empréstimo compulsório Próximo Texto: México quebra monopólio na comunicação Índice |
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