São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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Tornatore repete 'Paradiso'

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Giuseppe Tornatore tenta refazer a mágica de seu cultuadíssimo "Cinema Paradiso" (1988) em "O Homem da Estrela" (L'uomo delle Stelle). O filme poderia seguir uma trajetória dramática toda própria. Mas não: sua estrutura episódica de aventuras em cada parada mimetiza claramente "Paradiso".
Assim, Joe Morelli (Sergio Castelitto) roda a Sicília com seu equipamento de cinema num caminhão. A cada cidade, o mesmo ritual: anuncia pelo megafone que a sorte pode estar batendo à porta de todos, que basta um simples teste filmado -ao custo mínimo de 1.500 liras- para que a Cinecittá e Hollywood possam descobrir em qualquer um o novo astro da hora.
Tornatore faz desfilar pela câmera de Morelli toda sorte de pobres-coitados, aos quais pede um trecho de "E O Vento Levou" mas dos quais recebe em geral confissões das mais íntimas. O melancólico final já estava previsto em outro roteiro.
Talvez o melhor Tornatore de Veneza-95 ainda esteja por vir: fora de competição, na mostra "Janela Sobre a Imagem", ele apresenta hoje o documentário "A Tela de Três Pontas", em que faz um inventário dos filmes rodados na Sicília. Em pouco menos de duas horas, sucedem-se mais de 500 extratos de 163 filmes de cem cineastas diferentes, partindo de "1860" de Alessandro Blasetti (1934) até chegar a "Il Giorno di San Sebastiano" de Pasquale Scimeca (1994). A tese central é emprestada do escritor Leonardo Sciascia: "Filmes sobre a Sicília foram, são e serão feitos pois a Sicília é o cinema".
Mainardi
"Dezesseis Zero Sessenta", a irregular comédia negra do estreante Vinicius Mainardi, foi bem-recebida em sua primeira projeção em Veneza, dentro da mostra paralela "Janela Sobre a Imagem". O filme provocou algumas risadas sobretudo em seu terço final e foi moderadamente aplaudido, numa sala medianamente ocupada pela imprensa.
"É um filme interessante, no estilo dos curtas-metragens de São Paulo", disse à Folha um dos principais críticos italianos, Roberto Silvestre, do diário romano "Il Manifesto". Na mosca. A trama de "Dezesseis Zero Sessenta" (referência ao número de dias vividos pelo protagonista em seus 44 anos) é muito similar ao do belo (e superior) curta "Faça Você Mesmo" (1992) de Fernando Bonassi. Um casal de alta classe média tem sua casa invadida por um ladrão e, temendo um posterior vingança caso chamem a polícia, enfrentam o dilema: matam-no ou arriscam?
A similariedade da trama parece acidental, sendo o enredo do filme assinado pelo escritor Diogo Mainardi, irmão do diretor, e o roteiro por ambos, há anos morando na Itália. O longa estica a situação condensada no curta e a revisita em outro estilo. "Dezesseis Zero Sessenta" é uma comédia expressionista, belamente fotografada em preto e branco contrastado por Lito Mendes da Rocha.
Depois de mandar o bandido para trás das grades, o empresário Vittorio (Antonio Calloni) manda seu advogado liquidá-lo -e tem início a confusão. Outro detento é morto em seu lugar e Vittorio, culpado, abriga provisoriamente sua miserável viúva e os três filhos. Tudo o mais é consequência.

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