São Paulo, sexta-feira, 8 de setembro de 1995
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CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - A fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara volta a ser discutida. Afinal, a medida foi uma das violências mais estúpidas do regime totalitário: para sufocar a vocação oposicionista da antiga capital da República, os estrategistas da situação promoveram a fusão sem nenhum respeito aos interessados: os fluminenses e cariocas.
Nada demais que agora, 20 anos depois, seja convocado um plebiscito para decidir a questão. É o caminho lógico, constitucional e ético para normalizar um dos casos mal resolvidos -entre outros.
O problema pode parecer aleatório ao resto do país, mas para os cariocas o assunto é como mulher na cabeça do Juquinha: pensa-se sempre naquilo. Há um equívoco generalizado a respeito do Rio: são muitos os que o consideram ressentido pela perda do status de capital da República.
Evidente que há uma turma saudosa dos velhos tempos, mas não é a maioria. Para o carioca, o governo federal foi um hóspede incômodo, depredador e perdulário. Usou e abusou da cidade como uma senzala, um bordel, uma capitania hereditária criada e mantida para saciar a fome de empregos, sinecuras e depravações da classe política.
O Rio nem tinha autonomia para se governar. Era explorado por um preposto da federação, nomeado pelo presidente da República e referendado pelo Senado, vale dizer, era um funcionário-refém da cúpula federal. Isso explica a tal vocação oposicionista do carioca.
Transferida a capital, JK fez justiça ao Rio: criou o Estado da Guanabara, que dava seguimento moral, social e econômico ao antigo Município Neutro do Império. Tivemos então o nosso ciclo de ouro, com dois grandes governadores: Carlos Lacerda e Negrão de Lima. Eles criaram o Rio moderno. Rio que o regime militar, em 1975, feriu de morte, fundindo-o com o Estado do Rio.
A fusão prejudicou os dois Estados. A partir da fusão, e com exceção de alguns espasmos, a economia e a sociedade dos fluminenses e cariocas entraram em perda. Pretendo voltar ao assunto.

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