São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
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Acordo divide a Bósnia e pode acabar com a guerra

MICHAEL SHERIDAN
DO "THE INDEPENDENT", EM GENEBRA

Sérvios, croatas e muçulmanos da Bósnia concordaram em dividir o país em duas partes e ficaram próximos de um acordo de paz.
A decisão não foi assinada pelos representantes e foi mediada em Genebra (Suíça) pelos EUA, que propuseram um plano de paz que destina 51% do território da Bósnia a uma federação croata-muçulmana, e os outros 49% à autoproclamada República Sérvia da Bósnia, que seria reconhecida internacionalmente.
Esta divisão, entretanto, ainda pode ser negociada. Novas conversações devem acontecer nas próximas semanas.
Não está claro qual o status legal -se é que há algum- da declaração de princípios feita ontem à tarde em Genebra, que contou com a concordância dos ministros das Relações Exteriores da Bósnia, da Sérvia e da Croácia.
O enviado especial dos EUA, Richard Holbrooke, disse que a Sérvia e os sérvios bósnios já aceitam como princípio básico a existência da Bósnia como país internacionalmente reconhecido.
Mas Holbrooke admitiu que "a paz no papel não é a mesma coisa que uma paz implementada". "Este anúncio não constitui o fim da tragédia nos Bálcãs -longe disso". Ontem, houve combates na região (leia texto abaixo).
Holbrooke também afirmou que o acordo para dividir a Bósnia entre sérvios e a aliança muçulmana-croata não equivale a uma partilha do país. "Nada disso representa a constituição de dois países", disse ele.
Os negociadores tampouco conseguiram chegar a qualquer acordo entre a Sérvia e a Croácia sobre a questão da Eslavônia oriental, território croata sob domínio dos sérvios da Croácia.
O enviado norte-americano disse que os bombardeios dos sérvios pela Otan, que prosseguiram ontem, não afetam o diálogo -as primeiras negociações formais de paz em mais de um ano. Não se sabe se o líder militar dos sérvios bósnios, general Ratko Mladic, irá endossar a posição assumida pela delegação sérvia em Genebra.
O governo bósnio aceitou com relutância a possibilidade de os sérvios estabelecerem uma "relação paralela especial" com Belgrado, equiparando-se a sua própria aliança com a Croácia.
As negociações deverão continuar a ser lideradas por Holbrooke, com a participação do chamado Grupo de Contato (EUA, Reino Unido, França, Rússia e Alemanha). O enviado da União Européia, Carl Bildt, também tomará parte nas negociações.
Mas a ONU, que vem sendo criticada por todos os lados no conflito, esteve ausente da reunião de ontem. Sua exclusão marcou, na prática, o início do fim da atual missão da ONU na ex-Iugoslávia.
Holbrooke revelou a existência de conversações secretas sobre o futuro de Sarajevo. O provável é uma capital "não dividida, com a exceção de uma das áreas".

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