São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
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O elefante e a raposa

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO-Volto ao assunto de ontem: a necessidade de um plebiscito (tal como a Constituição prevê) sobre a truculenta fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Para não ir muito longe: Estados tradicionais foram divididos, como o Mato Grosso. Criaram-se outros, como Tocantins. O benefício foi o aumento do número de senadores, deputados e cargos da burocracia estadual.
Bem diferente da situação vivida pelos cariocas. Foram castigados pelo crime de serem oposição. Quando a Arena nomeou todos os governadores do país, foi obrigada a uma composição com antigo e suspeito líder do MDB (Chagas Freitas) para mascarar a violência. A Guanabara não podia coexistir com a "pax" castrense que então dominava.
A fusão prejudicou os dois Estados. A antiga Guanabara, prevista na carta constitucional que também estabelecia a mudança da capital federal, era um pequeno gigante no contexto nacional. Para citar coisas simples: o ensino público na Guanabara era, se não modelar, excelente. Colégios como o Pedro 2º, o Militar e a Escola Normal estabeleciam o padrão nacional. Os hospitais, tanto os municipais como os estaduais e federais localizados no Rio, tinham reconhecida eficiência. O Hospital do Servidor, na Gamboa, era o mais conceituado da rede hospitalar do país.
Com a fusão, a Guanabara inchou, sem que nenhum problema do antigo Estado do Rio tenha sido minorado. Pelo contrário: antes, o fluminense do interior tinha uma referência, um endereço próximo a procurar em caso agudo de doença, educação e lazer.
Se era a ruína o que desejavam os ressentidos com o Rio, palmas para eles: conseguiram derrubar um carvalho para plantar um capim ralo e desfibrado.
Falei na educação e na saúde. Quanto à questão da violência, o aparelho policial e judiciário dos dois Estados até hoje não se recuperou da extravagante contabilidade que tentou somar um elefante com uma raposa. Basta olhar as estatísticas para se avaliar o sangue que a fusão provocou e não sabe nem pode estancar.

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