São Paulo, sábado, 9 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pequim e Aparecida

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

De 4 a 15 de setembro, mais de 15 mil pessoas participam, em Pequim, da Quarta Conferência Mundial da ONU sobre a mulher. Do Brasil, estão presentes 300 pessoas, sendo 82 os membros da delegação oficial. Dona Ruth Cardoso, a primeira-dama, já teve a oportunidade de falar em nome de nosso país aos membros da conferência. Participa, também, a delegação da Santa Sé presidida por Mary Ann Glandon, mãe de três filhos e professora de direito da Universidade de Harvard.
O papa João Paulo 2º, em 26 de maio, apresentou à sra. Gertrude Mongella, secretária-geral da conferência, pontos centrais que mereciam ser tratados em Pequim. Semanas depois, a 29 de junho de 1995, na "Carta de João Paulo 2º às Mulheres", retomou e aprofundou esses temas.
Põe em relevo a mensagem de perene atualidade de Jesus Cristo, que, superando as normas culturais de seu tempo, teve para com as mulheres atitudes de abertura, de respeito, acolhimento e ternura, honrando na mulher a dignidade que tem no projeto e no amor de Deus (nº 3).
1) Urge conseguir a igualdade efetiva dos direitos da pessoa, garantindo a plena inserção da mulher na vida social, política, econômica e cultural. Isso inclui a idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe trabalhadora, paridade entre cônjuges no direito da família, promoção na carreira, participação na vida pública e nos processos decisórios que orientam a sociedade, e reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e deveres do cidadão num regime democrático (nº 4).
2) É preciso condenar, com vigor, as discriminações e exploração da mulher, os abusos perpetrados, em especial no campo da sexualidade, denunciando os efeitos negativos da cultura hedonista e mercantilista. Além disso, há que promover os instrumentos jurídicos de defesa e de universal tomada de consciência da dignidade da mulher.
3) Chegou o momento de se reconhecer a múltipla contribuição e o papel peculiar da mulher na humanização da sociedade. Sua mais importante influência é na dimensão ético-social, particularmente no âmbito familiar. O "gênio feminino" torna-se eminente no dom de si e no serviço gratuito aos outros. A grandeza e a profunda vocação da mulher está em saber -talvez mais do que o homem- doar-se por amor e "ver com o coração", para além dos sistemas ideológicos e políticos.
No dia 7 de setembro, milhares de romeiros, especialmente trabalhadores, reuniram-se em Aparecida, no santuário da padroeira do Brasil, para rezar pela pátria, apresentar à "Mãe de Deus e nossa" o grito dos excluídos e aprender com a "Serva do Senhor" a cumprir o mandamento do amor que Jesus nos ensinou.
Em Pequim, temos o direito de esperar o reconhecimento do valor e da contribuição inestimável da mulher, na defesa e promoção da vida e no progresso da sociedade. Em Aparecida, temos o dever e a alegria de louvar, com afeto filial, Maria, modelo de mulher, esposa e mãe, a quem Cristo conferiu a maior dignidade e a mais bela participação no dom de si a toda a humanidade.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

Texto Anterior: O elefante e a raposa
Próximo Texto: DIFERENÇAS; AMEAÇA; IMPERADOR; CONFETES
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.