São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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'Êxodo industrial' é a principal consequência da competição

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O "êxodo industrial" é a principal consequência das mudanças que estão ocorrendo na área de produção com o aumento da competição na economia globalizada.
Empresários já comparam o "êxodo industrial" desta década ao "êxodo rural" dos anos 50.
Para os empresários, a queda do emprego industrial é semelhante à migração de trabalhadores rurais, substituídos por máquinas nos campos, em busca de oportunidades no surto industrial pós-guerra.
Franz Ludwig Reimer, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica) identifica nas demissões um "êxodo industrial".
"Trata-se de um processo que não conseguimos avaliar direito, mas é parecido com aquilo que aconteceu há 50 anos na agricultura", diz.
"Com toda certeza, a forte tendência de globalização na indústria eletroeletrônica reduz o nível de emprego no setor", afirma.
"Infelizmente, esse é o preço da abertura no setor eletroeletrônico, principalmente no setor de componentes".
Ruy Martins Altenfelder Silva, diretor-geral do Instituto Roberto Simonsen, diz que o fenômeno da globalização leva à terceirização, e, no caso do Brasil, à "informalização" da mão-de-obra industrial.
"A informalização tem consequências funestas para a economia, principalmente a sonegação de impostos e a queda da arrecadação do Estado", diz.
Para ele, a queda do nível de emprego no Brasil tem muito a ver com a calibragem da política econômica.
"Já que o que se assiste no mundo é a queda do nível de emprego de maneira generalizada no setor industrial", afirma.
Ele atribui a queda do nível de emprego industrial nos países mais industrializados à terceirização, globalização da produção, reengenharia, reestruturação e à aplicação das modernas ferramentas de gestão em busca da melhoria dos níveis de produtividade.
A Fiesp sugere leis trabalhistas mais flexíveis no país para diminuir o impacto da queda do nível de emprego industrial.
Isso quer dizer a retirada de parte dos encargos trabalhistas para facilitar a abertura de vagas no setor de serviços por meio do barateamento da mão-de-obra.
Os empresários acham que os setores que mais podem absorver a mão-de-obra excedente no setor industrial são informática, telecomunicações e turismo.
Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho de administração da Sadia, vê grande potencial para o crescimento do emprego no setor de turismo no Brasil.
"Os serviços na área de turismo no país ainda são ruins e caros", afirma.
Ele acha que o desemprego industrial é "inevitável".
Roberto Teixeira da Costa, presidente da Brasilpar e do capítulo brasileiro do Ceal (Conselho de Empresários da América Latina), diz que a reorganização da produção na economia global "certamente" reduz o trabalho humano nas fábricas.
"A busca de produtividade leva à redução de custos e de mão-de-obra e à terceirização. Os postos fechados pela terceirização não são reabertos e nem todos demitidos encontram espaço na terceirização", diz.
No mundo inteiro, diz Costa, está havendo uma transformação.
Feres Abujamra, diretor do Departamento de Economia da Fiesp, diz que a terceirização que ocorre no país é um indicativo de que a redução do nível de emprego industrial é um processo irreversível.
Segundo Abujamra, a absorção dos trabalhadores industriais pelo setor de serviços é mais fácil nos países desenvolvidos, devido ao alto nível de educação.
"O Brasil, sem dúvida nenhuma, precisa resolver o grande problema da defasagem escolar agravado nos últimos 20 a 30 anos".

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