São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Pílula para homem deve ser lançada em 96

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A primeira pílula anticoncepcional para homens deve estar no mercado até meados do ano que vem. O Brasil pode ser o primeiro país a usá-la em grande escala.
A nova droga vem sendo testada há dez anos e é vista como um passo fundamental na liberação da mulher. Até agora, a contracepção tem sido tarefa quase exclusivamente feminina.
"A pílula já está pronta. Faltam a aprovação do Ministério da Saúde e a produção em escala comercial", diz Elsimar Coutinho, 65, professor de reprodução humana da Universidade Federal da Bahia.
Coutinho coordena um estudo multicêntrico realizado com 500 homens em oito países da América Latina, África e Ásia. No Brasil, 100 baianos vêm tomando a pílula.
"O remédio não revelou problemas de nenhuma espécie e a aceitação está sendo surpreendente", diz o professor.
Um estudo pré-introdutório com mil homens brasileiros começará nas próximas semanas. Coutinho acredita que em um ano a pílula estará disponível no mercado.

Produção
A pílula do homem é produzida com o gossipol, uma substância natural extraída da semente do algodão. Ela desativa uma enzima responsável pelo amadurecimento dos espermatozóides.
Como os anticoncepcionais femininos, a pílula do homem deve ser tomada diariamente. Alguns dias depois, o gossipol interrompe a produção de espermatozóides.
Assim que para de tomar a pílula, o homem volta a produzir espermatozóides num período que vai de duas a seis semanas.
Estudos feitos em vários países indicam que entre 5% e 10% dos usuários da pílula não conseguem mais recuperar a fertilidade. Segundo as pesquisas, a grande maioria deles já tinha dificuldades anteriores ao uso da droga.
"A pílula vai ser de grande ajuda no planejamento familiar", diz Paulo Galvão Spinola, 45, também professor da Universidade da Bahia e um dos coordenadores dos estudos da nova droga.
Spinola presidiu na semana passada o 4º Congresso Norte-Nordeste de Reprodução Humana onde a pílula foi anunciada.
Marcos Paulo de Castro, presidente da Associação Brasileira de Planejamento Familiar, diz que um em quatro casais poderá se beneficiar da pílula do homem. "Muitas mulheres não se dão bem com as pílulas", afirma Castro. Segundo a associação, a pílula feminina é usada por cerca de 50% das mulheres que utilizam métodos anticoncepcionais reversíveis.

O jornalista AURELIANO BIANCARELLI viajou a Salvador a convite da Johns Hopkins University.

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