São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Mercado futuro prevê queda livre dos juros

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As taxas de juros estão em queda livre no mercado futuro da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
No dia 31 de agosto, o mercado projetava juros efetivos de 3,25%, em setembro, 3,05%, em outubro, e 2,9%, em novembro. Na última sexta-feira, as taxas projetadas já eram de 3,19%, 2,94% e 2,82%, respectivamente.
Há consenso entre os analistas de que as taxas de juros vão cair, mas a velocidade de queda já divide as opiniões.
O próprio presidente do BC (Banco Central), Gustavo Loyola, disse à Folha que o BC não assume qualquer compromisso com a trajetória prevista.
"Tem um grande espaço para cair", afirma o ex-diretor do BC Pedro Bodin, atualmente, no Banco Icatu.
Para ele, com a inflação na casa de 1% a 1,5% ao mês, já é possível praticar um juro real (o que é pago acima da inflação) entre 1,2% e 1,5% ao mês. Hoje está na faixa dos 2%.
Mais à frente, aprovada a reforma administrativa, andando o programa de privatizações e a carga fiscal no patamar de 30% do PIB (Produto Interno Bruto, que mede a riqueza produzida no país), estariam criadas as condições para que o juro real despencasse do patamar dos dois dígitos anuais.
"Um ganho líquido (descontados os impostos e a inflação) de 5% ao ano já é razoável."
Claúdio Haddad, do Banco Garantia, cita um exemplo para mostrar a possibilidade de queda. "Nos títulos da dívida externa de três anos e meio, o Tesouro está pagando juros de 14% ao ano mais câmbio. Nas NTN-d (Notas do Tesouro Nacional, corrigidas pelo câmbio), de seis meses, o governo pagou juros de 23% ao ano. Essas coisas não são compatíveis."
Para ele, a política de controlar o consumo e o nível de atividade com juros altos "não pode ser mantida indefinidamente. Ela custa muito caro para o Tesouro".
Menos otimista, Renê Aduan, do Banco Real, diz que o juro "já chegou ao ponto" (caiu o que poderia cair). Com uma taxa efetiva abaixo dos 3% ao mês, "vai ficar difícil segurar o pessoal na caderneta na véspera do Natal."
Fábio de Oliveira, do Banco de Boston, concorda. "O mercado está 'overchutando' (jargão para exagerando). Por que o BC, que sempre foi conservador, faria uma trajetória de queda tão agressiva se não se tem ainda certeza sobre o comportamento futuro do nível de atividade e do consumo?"
O risco, se for rápido demais, é ter de, perto do Natal, voltar a subir as taxas, lembra Celso Scaramuzza, da comissão de captação da Febraban (Federação Brasileira das Associações da Bancos). Ele afirma, porém, que a "margem para a queda é enorme".
Poderando que o consumo vai dar o limite para a queda dos juros, Cândido Bracher, do BBA Creditanstalt, diz que "a melhor medida é o resultado da balança comercial (exportações e importações)". Para ele, ao contrário do passado, o relevante é comparar o juro (preço do real) com o câmbio (o preço do dólar) e não mais com a inflação.
Oswaldo de Assis, do Banco Itamarati, concorda. Não se consegue entender, diz, a partir da relação juro e inflação, porque a sensação é de uma taxa insuportável. "O ganho real médio está na casa dos 2% ao mês, que é o padrão histórico brasileiro."
Mas, se a referência é o câmbio, as coisas mudam. "A percepção é de um juro mortal", afirma, para depois acrescentar: "O Plano está baseado em uma âncora cambial. A essência do Real é abrir a economia e provocar a concorrência internacional. Não somos mais uma economia fechada."
Tanto que (veja tabela), para Assis, é possível, a grosso modo, montar um quadro da situação das empresas com base em duas variáveis: 1) se sofre ou não concorrência internacional; 2) se tem ou não acesso ao crédito externo (bem mais barato que o nacional).
Bracher projeta um juro de 18% ao ano mais câmbio para o final do ano -hoje está em torno de 23%. "As taxas podem retirar a memória inflacionária, mas não ficam abaixo dos 18% por conta das incertezas sobre as contas públicas."

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