São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Bancos prevêem a recuperação do crediário dentro de 60 dias

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Leocádio Geraldo Rocha, da comissão de operações bancárias da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), diz que "as pessoas físicas já estão se reposicionando" após a fase crítica do aperto no crédito.
Isto é, já estão conseguindo adequar a capacidade de pagamento (basicamente salários) com os gastos mensais, inclusive o pagamento das dívidas assumidas anteriormente. "O nível de atrasos está diminuindo."
Segundo ele, o prazo médio dos refinanciamentos de dívidas, por conta da inadimplência, é de seis a oito meses. Logo, o pagamento dessas dívidas vai atravessar o ano, passando pelo Natal.
Mas, para Rocha, o nível de atividade econômica e do consumo em novembro e dezembro vai melhorar. "Este Natal vai ficar muito próximo do que foi o de 94."
Depois que a economia foi parada "travando as rodas e dando cavalo de pau", uma nova rodada de empréstimos, que não deixarão de ser seletivos, deve começar em 60 dias. Em um primeiro momento pela indústria, que vai precisar de matéria-prima e, depois, para recomposição de estoques, tendo na mira o Natal.
No caso das pessoas físicas, a linha de crédito que primeiro deverá sentir o alívio será a de bens duráveis. Nesta linha, o empréstimo é garantido pelo bem.
Acomodação
Esse prazo de 60 dias é, na verdade, um período de acomodação.
Ingressaram na economia aproximadamente R$ 25 bilhões nos últimos 40 dias. Sendo R$ 12,6 bilhões por conta do afrouxamento dos compulsórios (recursos que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central, reduzindo a quantidade de dinheiro que pode ser emprestada ao setor privado).
Mas os compulsórios estão sendo desmontados em meio a um processo de desconfiança -que somou os efeitos da inadimplência com a crise que se seguiu à intervenção do BC (Banco Central) no Banco Econômico.
Os bancos estão seletivos nos empréstimos ao setor privado (pessoas físicas, empresas e também bancos), e os investidores, na hora de aplicar os recursos, também estão sendo seletivos.
Assim, mesmo com a entrada dessa montanha de dinheiro, os canais de empréstimos ao setor privado continuam entupidos.
Na prática, quem não tinha dinheiro ficou com algum. Quem tinha muito dinheiro ficou com muito mais. É o que se convencionou chamar de empoçamento.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, o alívio dos compulsórios vai permitir primeiro um ajuste no próprio sistema financeiro, para, só depois, no embalo do Natal, virar alguma retomada dos empréstimos para empresas não-financeiras e pessoas físicas.
Os analistas acreditam que os bancos que eventualmente ainda enfrentam dificuldades de liquidez só têm um caminho a seguir: reduzir seus ativos (a carteira de empréstimos).
O processo leva algum tempo e consiste em, basicamente, cobrar os empréstimos concedidos e deixar de renová-los. É óbvio, dizem os analistas, que esse processo de cobrança fica facilitado em um ambiente de juros mais baixos.
Por enquanto, os juros dos títulos privados continuam caindo mais depressa e antes dos pagos pelos títulos públicos.
É que os bancos que tiveram seus caixas engordados estão preferindo emprestar os recursos ao próprio governo.
Logo, para que os bancos não percam, o custo para captar recursos tem de ser inferior ao pago pelo governo em seus títulos.
É por isso que as taxas pagas nos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e no CDI (negócios entre bancos com títulos privados) estão mais baixas do que as do over-Selic (negócios de um dia com títulos públicos). (JCO)

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