São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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O labirinto do PIB e de outros números

Produto Interno Bruto está na casa dos US$ 500 bi, mas pode

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A quanto monta, afinal, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro? Está na casa dos US$ 400 ou 500 bilhões? Ou seriam US$ 800 bi?
E a taxa de desemprego em São Paulo? É de 5% ou 13%?
Não são apenas siglas e índices que desorientam quem se interessa por dados econômicos.
Quem sai à cata de números se defronta, primeiro, com entraves burocráticos. Com os dados em mãos, surgem surpresas e confusões -pelo menos para leigos.
O PIB (total de bens e serviços produzidos no país) em dólares é um desses números complicados. Apontam-se cifras que vão de US$ 500 bilhões a US$ 800 bilhões. Diferencia-se do PNB (Produto Nacional Bruto) porque este inclui entradas e saídas de capitais.
Na realidade, o PIB é calculado pelo IBGE na moeda do país. A conversão para dólar é feita pelo Banco Central (BC) por meio de um modelo em que entram variáveis como taxa de câmbio, obviamente, e também inflação e PIBs brasileiro e dos EUA.
Os dados que entram no modelo vêm desde 1961 e a cada ano a série é recalculada. A taxa de câmbio utilizada na conversão é estimada no longo prazo. Por isso, diz Luís Malan, da consultoria de pesquisas econômicas do BC, o fato de o dólar ter-se desvalorizado 16% frente ao real no segundo semestre de 94 não teve efeito decisivo sobre o PIB "dolarizado".
O Bird reconhece dificuldades na apuração dos PIBs e usa o método de seu atlas, atento à flutuação do câmbio em certos países.
O número do BC
O PIB em dólar do Brasil para 94 é de US$ 531,029 bilhões, ainda estimado, ressalva Malan.
O PIB de 1993, a preços de 94, foi de US$ 502,535 bilhões. Comparando-se com o de 94 chega-se a um crescimento de 5,67%, igual ao do produto em reais. Mas a preços de 93 o PIB daquele mesmo ano foi de US$ 484,856 bilhões.
Sempre que entra um novo ano, toda a série é refeita, diz ele.
O PIB brasileiro em dólares "engorda" em publicações de organismos internacionais quando se usa o método do poder de compra.
O economista Eduardo Giannetti, professor da FEA-USP, vê com simpatia esse método que, segundo ele, tende a aumentar o PIB em dólar dos países de menor renda.
Verifica-se quanto custa uma cesta de bens na Índia, por exemplo, e a mesma cesta nos EUA. Daí surge a relação que será usada na conversão do PIB para dólar.
Na China, o salário mínimo mensal é de 210 yuans, ou US$ 25 pela taxa de câmbio. Mas com US$ 25 compra-se muito mais em Pequim do que em Nova York.
Numa publicação das Nações Unidas de 94, informa Giannetti, a renda per capita no Brasil em 1991, pelo conceito de poder de compra, aparece com US$ 5.240.
Como a população brasileira naquele ano estava em torno de 153 milhões, chega-se a um PIB de US$ 801,7 bilhões. Pela taxa de câmbio, o PIB de 91 foi de US$ 436,8 bilhões, informam os "Indicadores Iesp", da Fundap (SP).
Cálculos pelo poder de compra são complicados, afirma Malan, porque o padrão de consumo nos países ricos é relativamente estável, o que não ocorre nos pobres.
Mas, qualquer que seja o número, vale a lembrança do Bird em seu "report" anual: PIB per capita (por habitante) "não representa nem mede bem-estar".

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