São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Vôlei brasileiro apóia 'campanha da paz'

SÉRGIO KRASELIS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

O vôlei brasileiro apóia a campanha contra a violência no futebol.
Duas das principais estrelas da seleção brasileira masculina de vôlei, os atacantes Tande, 25, e Marcelo Negrão, 22, disseram que, na medida do possível, farão o que estiver ao alcance da dupla para participar do movimento, coordenado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
Os dois disseram que topariam jogar uma partida de futebol ao lado de outras personalidades do esporte e da vida artística.
"Se for para acabar com a agressão nos estádios jogo com prazer", disse Tande.
A Folha apóia a campanha do sociólogo pela paz no futebol.
Ao saber da iniciativa, o técnico da seleção brasileira, José Roberto Guimarães, afirmou: "Quero participar deste jogo. A idéia é muito boa".
A seleção brasileira está em Porto Alegre, onde participa do Campeonato Sul-Americano, que hoje tem a rodada decisiva.
Tande e Marcelo Negrão já estão habituados com o futebol. Diariamente, eles são adversários na 'pelada' de aquecimento que reúne jogadores e dirigentes antes do treino da seleção brasileira.
Irreverente, Tande se transforma em um verdadeiro garoto e parte para cima do gol adversário. Não raro, ele costuma fazer belas jogadas que pretende repetir no jogo para a campanha "Paz no Futebol".

Folha - O que você pensa a respeito da campanha para tentar acabar com a violência no futebol?
Tande - Em primeiro lugar, só o fato de participar de uma campanha ao lado do Betinho já me enche de alegria.
O Betinho é uma pessoa na qual todo jovem deveria se espelhar. Depois de idealizar uma campanha contra a fome no Brasil, agora ele, que não pertence ao mundo esportivo, batalha pela fome de bola. Ele sempre está querendo ajudar as pessoas. Admiro muito o Betinho, que, repito, deveria ser tomado como exemplo de dignidade.
Folha - Qual a sua análise sobre esta situação de violência nas torcidas organizadas?
Tande - Acho que é um momento crítico para o futebol, porque a violência das torcidas não é percebida em outros esportes.
O brasileiro é fanático por futebol, ainda mais que somos tetracampeões mundiais e o futebol é um esporte de muita emoção. No vôlei, isso não acontece. Por quê?
Porque a torcida é predominantemente feminina. E nos clubes de vôlei também não existem tantos torcedores fanáticos.
Folha - O que você pensa sobre a rivalidade tão acirrada entre as torcidas organizadas?
Tande - Sei lá, é muito complicado. Pode ser falta de perspectiva, rivalidade de gangues, a situação econômica ou tudo isso junto.
O duro é ver uma família perder um parente que decidiu ir a um estádio para assistir um jogo e nunca mais voltou para casa por ter morrido ao ser agredido.
Folha - Qual seria a tua sugestão para esta situação já que você pratica um esporte onde não se vê violência dos torcedores?
Tande - Acho que, na minha opinião, todas as torcidas organizadas deveriam ser isoladas por cordões policiais.
Pode torcer, mas cercada de policiais. E só sai dali quando acabar o jogo. E de dois em dois. Nunca deixar sair em massa. Não sei, pode ser que funcione.
Ou então misturar as torcidas, não deixar que elas se concentrem.
Apesar de considerar muito bonito o espetáculo de ver as torcidas organizadas nos estádios.
O que te deixa mais triste nisso tudo?
Tande - O fato de que antigamente todo mundo cobrava a volta do melhor futebol brasileiro e as torcidas faziam o espetáculo.
Agora é o contrário. O futebol, que antes dava vexame, foi tetracampeão mundial. A torcida agora é que dá o vexame.
José Roberto Guimarães - Para mim, o mais triste em todo este episódio envolvendo brigas de torcedores, que acabou resultando na morte de um garoto, foi ver as verdadeiras imagens de guerra tomando conta do estádio do Pacaembu.
Nós já temos problemas demais na vida. O esporte é para unir as pessoas, que ficam juntas porque torcem por um determinado clube.
Por isso, qualquer manifestação para acabar com situação tão grave dentro do futebol no Brasil merece ser apoiada. O que todos nós queremos é poder voltar em segurança para a arquibancada.
Tande - A torcida precisa se conscientizar. É preciso que, cada vez mais, as pessoas que são vistas como ídolos apóiem e falem a favor da paz.
Marcelo Negrão - A campanha contra a violência merece todo o apoio. Estão estragando com o espetáculo. Quem antes ia ao estádio com mulher e filhos hoje não vai mais. E justamente o futebol, uma paixão nacional. Isso chateia muito. É preciso punir os responsáveis, aumentar a segurança nos estádios.
Folha - O governo deveria participar mais da campanha?
Marcelo Negrão - Acho que o Pelé (Edson Arantes do Nascimento, ministro dos Esportes) deveria se reunir com todos os responsáveis pela segurança nos Estados e adotar um esquema para combater essa situação. Se eu puder ajudar, vou fazer. Temos que acabar com a violência de qualquer jeito.

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