São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Reversível X conversível

A comparação entre a estabilização brasileira e a argentina poderia ser resumida no contraponto entre o conversível e o reversível.
Na Argentina, a política econômica repousa sobre a conversibilidade que é irreversível (o peso tornou-se moeda conversível por lei do Congresso que não se pode alterar com facilidade). E a inflação há muitos meses ronda o zero.
Já no Brasil o câmbio é flexível, a desindexação é gradual e o ajuste fiscal lento e gradativo. E a inflação, ainda que longe de zero, dá sinais de queda. De qualquer forma, apesar das diferenças, nos dois planos ainda há muito a fazer.
E é a flexibilidade do Plano Real que torna a sua agenda mais aberta a providências que, ao contrário do Plano Cavallo, são reversíveis.
Essa reversibilidade é crucial nas políticas de juros e câmbio. O Banco Central está relaxando as restrições de liquidez e levou os juros a níveis de antes da crise de março.
Agora, institutos de pesquisa e economistas começam a prever uma inflação na casa de 1% para setembro e até mesmo deflação em alguns setores. Mais, os sinais de desaquecimento econômico são já evidentes e mesmo o saldo do comércio exterior deverá ser positivo.
A inflação cai, a economia esfria, o comércio exterior sai do vermelho, e o nível de reservas internacionais bate recordes. Não há motivos para o governo negar-se, portanto, a flexibilizar ainda mais as políticas de juros e de câmbio.
Reduzir juros e corrigir o câmbio são providências que os mais cautelosos sempre preferiram adiar em nome da estabilidade, contra o pânico especulativo, em favor da atração de capitais.
O momento favorece esses ajustes, e a natureza do plano garante que, se necessário, eles podem ser revertidos. Resta esperar que os membros da equipe econômica possam ser convertidos.

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