São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Ainda há esperança!

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

No dia em que o presidente Fernando Henrique conclamou os governadores a investir mais e melhor no ensino de primeiro grau (2/9/95), acabei de ler um livro sobre "O Sucesso da Ásia: Milagre ou Programação"?
Os países do leste asiático apresentaram um crescimento espantoso nos últimos 30 anos. A renda per capita aumentou 6% ao ano, a distribuição de renda melhorou, os salários não param de aumentar e a produtividade é enorme.
Depois de examinar praticamente todas as possíveis causas, os autores concluíram que o "milagre asiático" decorreu de três "decisões corretas": 1) melhoria da educação; 2) estabilização da moeda; 3) ampliação das exportações de manufaturados -tudo isso harmonizado por políticas industriais integradoras e de caráter contínuo.
Será que essa combinação de educação, estabilização e exportação vale para o Brasil? Penso que sim. Nosso país está na direção certa. Falta apenas uma maior aceleração. Os dados indicam existir ainda um amplo espaço para ampliarmos nossas exportações. Afinal, respondemos por apenas 1% das exportações mundiais. Podia ser 2%, ou mais.
Para tanto, a alavancagem da educação é essencial. No início da década de 60, os Tigres Asiáticos já tinham estendido a escola primária à toda população; dez anos mais tarde, deu-se o mesmo com a secundária, incluindo-se aqui um poderoso sistema de formação profissional. O Brasil de hoje é ainda o sétimo pior país no número de analfabetos, com mais de 20% dos maiores de 14 anos nessa triste condição e com 23% da população adulta que não sabe o significado do 7 de Setembro.
No exame dos antecedentes do crescimento asiático, a educação foi o mais importante pré-requisito. Não houve nenhum milagre. Foi a incorporação de pessoas bem-preparadas à força de trabalho que deu àqueles países a possibilidade de produzir mais e melhor e, com isso, competir, exportar, gerar renda, empregos e impostos.
Por isso, a decisão dos nossos governantes de investir no ensino foi mais do que oportuna. Ótimo! Temos que andar muito depressa na escola de primeiro grau e no campo da formação profissional. O Senai tem 2 milhões de brasileiros matriculados em suas escolas, realizando um excelente trabalho e respondendo, em grande parte, pelos 75% de nossas exportações de manufaturados e semimanufaturados. Mas é pouco. Pior ainda é a pequenez da nossa rede de escolas públicas que, nesse campo, matriculam apenas 75 mil pessoas.
A prioridade dada à educação tem lógica. Com isso passamos a ter grandes chances na corrida do desenvolvimento. Os outros ingredientes já estão presentes. A moeda vai se estabilizando; as exportações têm um grande potencial de aumento. Falta agora a adoção de políticas industriais estáveis. Não se pode continuar com as "medidas de efeito sanfona" como as que ainda predominam no Brasil.

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