São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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A nova química do amor

SÉRGIO DÁVILA

"A cada par de anos surge uma nova panacéia, uma nova cura de todos os males, como o Prozac"
"A cada par de anos surge uma nova panacéia, uma nova cura de todos os males", diz o médico psiquiatra José Maroni, Ph.d na Universidade de Londres, especialista em psicobiologia e ansiedade. Ele cita o fenômeno recente do antidepressivo Prozac como exemplo.
"É até compreensível essa busca, pois a panacéia vem dos gregos, está na origem da civilização ocidental", completa. Segundo o médico, 97% das pessoas que recebe estão em busca da pílula mágica, "que levante o pau do cara, deixe a mulher bem ligada ou resolva outro problema, não necessariamente sexua"l.
O deprenyl, ele conhece de estudos científicos, mas ainda não encontrou ninguém que o tomasse entre seus pacientes brasileiros. "A verdade, acho eu, é que não existe o tal remédio de todos remédios".
Superorgasmo
"Tudo bem, não quer dizer que o cara vá tomar o remédio e ter ereção na hora ou que a mulher fique excitadona", diz o andrologista Roberto Tullii. "Mas pode querer dizer que a mulher tenha um superorgasmo ou que o cara aumente seu desejo."
Em sua clínica paulistana, Tullii atende cerca de 50 pessoas por mês com problemas sexuais. Na parede de sua sala, exibe 26 títulos, entre diplomas (professor doutor da Universidade de Siena, Itália), láureas e menções. Ele provoca: "Antes, qualquer coisinha, levavam o cara para o divã. Agora, existem remédios."
E conta um caso: "Tenho um paciente de 33 anos, virgem, com a libido a zero porque acha que tem o pênis pequeno. Quando for comprovado seu efeito afrodisíaco, e se for comprovado, o deprenyl poderia ser útil para ele, por que não?"
Segundo outros depoimentos colhidos pelo livro, quase religiosos, o deprenyl já está sendo útil: "Teve um efeito positivo em minha libido", diz um homem de 35 anos. "Parece mais nutriente que droga, lubrifica minhas engrenagens cerebrais, 'engraxa' meus processos psíquicos", diz uma mulher de 39 anos.
"Sinto como se sempre tivesse faltado deprenyl em minha vida. Agora, conto com energia e ambição, diz uma mulher de 34 anos. "Deixou minha vagina mais lubrificada", disse uma mulher de 40 anos. O clima de "Tomou, melhorou" impera.
Do amendoim à codorna
"Mas não é bem assim", rebate Moacir Costa. Sexólogo, médico e psicoterapeuta, é pós-graduado na Universidade de Cornell (EUA). "No sexo, a fantasia é mais forte que a realidade", diz Costa. "Se a pessoa tomar o remédio e achar que vai ficar excitada, pode ficar mesmo."
Para o terapeuta, no entanto, não se pode industrializar algo tão íntimo. "Sexo é afinidade", química pessoal, diz. "Além do mais, trabalho há 17 anos com isso e até hoje nunca vi um caso de afrodisíaco realmente científico, comprovado."
Concorda com ele Malcom Montgomery, ginecologista, obstetra e sexólogo, autor de livros sobre o assunto. "Do amendoim ao ovo de codorna, passando pelo deprenyl, nada se compara à motivação pessoal", diz Montgomery.
E mais: "Quer saber? Só acredito num afrodisíaco, que é a endorfina, uma substância química que nosso próprio organismo fabrica quando estamos nos sentindo bem. E essa substância o homem ainda não conseguiu sintetizar em laboratório."
Ainda.

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