São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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a nova química do amor

SÉRGIO DÁVILA

"Parece mais um nutriente que uma droga, lubrifica minhas engrenagens, 'engraxa' meus processos"
Milagre. É o que prometem os arautos dos novos pró-sexuais, deprenyl à frente. Segundo definição própria, o básico de uma droga desse tipo é ser uma substância que melhora o sexo ou a saúde sexual.
Entre seus efeitos estaria o aumento do desejo; melhora da performance; maior lubrificação vaginal; ereções mais fáceis; maior frequência e intensidade do orgasmo. O lema: "melhorando o sexo, você melhora o resto de sua vida.
Efeito colateral: sexo
Simples assim? Não. O deprenyl, por exemplo, não é um afrodisíaco. Foi sintetizado pela primeira vez no começo dos anos 50, pelo húngaro Joseph Knoll. O médico procurava na droga propriedades contra a hipertensão. Não conseguiu.
Nas pesquisas, porém, Knoll descobriu sua eficácia como um atenuador da doença de Parkinson -mal que causa a perda progressiva do controle motor e é decorrente, acredita-se, de degeneração de parte do cérebro.
O parkinsoniano tem carência de dopamina, um neurotransmissor do cérebro que controla, provavelmente, a atividade motora. Controlaria também a cognição, o envelhecimento e... o comportamento sexual.
O que o deprenyl faz é diminuir a atividade da enzima MAO (mono-amino-oxidase) do tipo B, que regula a produção da dopamina. Ou seja, aumenta a quantidade de dopamina no ser humano. Deu certo.
Tão certo que, nos 30 anos seguintes, Knoll não parou suas pesquisas com a droga. "O deprenyl possui um aspecto farmacológico fenomenal, disse, em 1992. A próxima pergunta foi: o que aconteceria se alguém sem Parkinson tomasse deprenyl?
Ganharia longevidade, foi uma das conclusões, aceita e comemorada em todo o mundo. Mas poderia sofrer também uma série de efeitos colaterais. Traços esquizofrênicos, por exemplo. E hipersexualidade.
Então, começou a onda. Há alguns meses, uma editora da Califórnia, a Smart Publications, lançou o livro "Better Sex Through Chemistry - A Guide to The New Prosexual Drugs & Nutrients" (Sexo Melhor Através da Química - Um Guia das Novas Drogas e Nutrientes Pró-Sexuais).
Leia este depoimento de um homem de 28 anos: "A primeira vez, tomei deprenyl com uma amiga. Eu a conhecia há um ano, nós nunca tivemos nada. Depois de algumas horas de conversa, intensa e íntima, arrancamos a roupa e transamos. Eu ainda a vejo, mas, desde então, a gente nunca mais ficou junto. Ou seja, a única vez que fizemos sexo foi quando tomamos deprenyl".
E esse outro, de uma mulher de 38 anos: "Em primeiro lugar, deprenyl aumenta o meu desejo sexual. Então, abre as portas da comunicação -mais ainda se a pessoa que está comigo tiver tomado a pílula também. As conversas ficam mais sexuais. E age de uma maneira estranha na minha pele. Qualquer toque fica muito mais sensual, excitante."
A bíblia do deprenyl
Os autores são John Morgenthaler e Dan Joy e o livro virou a bíblia do deprenyl. Morgenthaler, escritor norte-americano, acredita no acesso desmitificado a certos remédios como um direito de cidadão.
Em suas constantes aparições em talk-shows, defende a tese de que médicos, governo e indústria farmacêutica formam uma máfia. Ao paciente, resta tomar os remédios que eles querem, quando e como mandarem.
É dele o best-seller "Smart Drugs & Nutrients", um tipo de manual de auto-ajuda farmacológica. Também editou "Stop The FDA: Save Your Health Freedom", em que ataca o órgão que regulamenta as drogas e alimentos, uma espécie de Ministério da Saúde norte-americano.

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