São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Infidelidade é o ganha-pão dos detetives

SIMONE GALIB; ANA PAULA NACIF
DA REPORTAGEM LOCAL

ANA PAULA NACIF
"Seja dúvida conjugal, problemas familiares, sócio desleal ou funcionário desonesto, nós temos a solução para o seu problema."
Anúncios como esses invadem cada vez mais os classificados de jornais e revistas. É o mercado dos detetives profissionais, que se expande na medida em que aumentam os casos de Aids, problemas conjugais e espionagem industrial.
A profissão tem lá seu charme, mas o "glamour" é coisa de literatura e cinema. Para quem está pensando em se aventurar na profissão, vale lembrar: o dia-a-dia exige inteligência, dinamismo e criatividade. Além de -é claro- uma boa equipe e muita discrição.
Afinal, o detetive vai escutar conversas telefônicas, investigar extratos bancários, abrir correspondências, fotografar encontros e vasculhar a vida de uma pessoa.
Para transitar nesses universos secretos, as técnicas e equipamentos utilizados são os mais variados. Os profissionais lidam com máquinas fotográficas, filmadoras, gravadores, rastreadores e até aparelhos de escuta telefônica.
Porém, todo esse equipamento tecnológico não basta. "Um detetive precisa, antes de tudo, ser inteligente", diz Angela Bekeredjiian, 44, 20 anos de carreira.
Ser polivalente é também elementar para se dar bem na carreira. "A única coisa que eu não faço é matar. De resto, executo de tudo, tanto na área conjugal como na empresarial", afirma Carlos Lacerda, 48, no ramo há 25 anos.
Lacerda pilota a Intelligence Service, uma bem-sucedida agência sediada em Pinheiros (zona oeste de São Paulo).
Comanda uma equipe de 23 detetives terceirizados (sem vínculo empregatício), que atende cerca de 40 clientes por mês, garantindo um faturamento de R$ 20 mil.
Os salários dos detetives dependem dos casos e da infra-estrutura de trabalho. Variam de R$ 4.000 a R$ 40.000, segundo profissionais.
Nicolau de Jesus Perez, 63, afirma que quando uma pessoa contrata um trabalho paga 50% à vista e o resto no final. Ele diz que fatura R$ 6.000 por mês.
Os casos de infidelidade conjugal são responsáveis pela manutenção da maioria dos escritórios de detetives do país, respondendo por 75% das investigações.
Desconfianças entre casais existem em todas as classes sociais. Porém, quando surge traição, "o pobre mata, a classe média sai na pancada e o rico contrata um detetive", afirma Carlos Lacerda. É assim que se ganha dinheiro no setor. Os serviços são caros.
Montar, por exemplo, uma campana (seguir alguém em qualquer lugar que vá ou criar um posto de observação) custa entre R$ 150 e R$ 250 por dia. As campanas são sempre feitas em determinados horários "para não espantar a caça", conta Lacerda.
As gravações internas de telefones em uma empresa podem chegar a R$ 1.000/dia.
Para ter idéia do tamanho da conta, é bom saber que uma investigação -para ser bem-feita- exige no mínimo sete dias, afirma a detetive Judith Alves, 39, que trabalha com Carlos Lacerda.
Para os profissionais, os casos conjugais são os mais simples de resolver. "Uma pessoa que tem um amante se encontra com ele pelo menos uma vez por semana", diz Silvana Barberato Forastieri, 32, cinco anos de profissão.
Os amantes brasileiros costumam ser indiscretos e usam muito o telefone, dizem os detetives. Isso dispensa grandes perseguições e superaparatos de espionagem.

LEIA MAIS
sobre detetives na pág. 8-2.

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