São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Fica o seco, segue uma brasileira

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na quinta-feira retrasada, dei folga para a pobre Annie Lennox, que já estava quase afônica de tanto cantar "Something So Right no toca-CDs de casa.
Enquanto a Medusa ia tomar mel com limão e botar os pés para cima, retomei a brasilidade e fui assistir aos Video Music Awards da MTV, rara reunião de medalhões da música nacional.
O esquema era padrão: a mestre-de-cerimônias Marisa Orth anunciava casais do meio artístico, os quais, por sua vez, apresentavam e premiavam as várias categorias -cada uma ilustrada por um clipinho bacana, seguido de trechos dos concorrentes.
Improvisados ou não, houve momentos bem interessantes. O cantor Falcão disse várias gracinhas à modelo Betty Prado, sua parceira na apresentação da categoria fotografia.
Chamou-a de "esse animal cartilogênico e eclesiástico e, antes de anunciar o vencedor, disse que "quem leva o clipe de ouro eu não sei quem é não, mas já já vou levar essa mulher para um pé-de-muro."
Entrando ao som de "Blue Moon", os irmãos Max e Igor Cavalera, do grupo Sepultura, apresentaram a categoria demo-clipe.
Depois de elogiar ("é do c...) a MTV brasileira por dar a bandas descamisadas acesso grátis à mídia, Igor mandou ver: "Vamos ver se a MTV americana começa a fazer isso... aquela bosta lá."
Democrática, a MTV preservou o insulto à mamãe nas reapresentações do programa.
João Gordo, vocalista do Ratos de Porão, parecia aculturado e catequizado em seu terno xadrez-toalha, que -segundo ele- havia lhe gerado o apelido de "piquenique atômico".
Entrando com a atriz Malu Mader ao som de "Pink Panther", para apresentar a categoria MPB, João ressalvou que não gosta e nunca gostou de MPB: "Sou roqueiro, sou punk, nasci na periferia, eu sou do rock...."
Entrevistando os Raimundos, o VJ Gastão perguntou o que eles iriam "aprontar no palco", e teve como resposta: "Bem, a gente aprontou vários, mas demorou muito e a gente já queimou tudo..."
O melhor ficou para o final, e totalmente por acaso. O árido clipe "Segue o Seco", de Marisa Monte, ganhou nada menos do que cinco prêmios.
Regina Casé, sempre valendo cada segundo de audiência, perguntou à cantora: "Marisa, como é pra você essa coisa da sua mãe ter sido presidente do júri do VMA? Você acha que ela escolheu bem?"
O júri escolheu bem, tecnicamente. Os telespectadores, no entanto, prescindiram da tecnologia, canto e gestos "cool" de Monte, elegendo o melhor clipe -com direito a participação na festa da MTV americana- a chacoalhada "Uma Brasileira", dos Paralamas.
Como convém agir sobriamente em ocasiões solenes, mesmo à distância, limitei-me a cerrar o punho direito e murmurar "yessssss!. "One more ti-i-me..."

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