São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995 |
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Igreja Católica afirma que sofre 'censura mesquinha' da Record
ARMANDO ANTENORE
Quem afirma é o monsenhor Arnaldo Beltrami, porta-voz da Arquidiocese de São Paulo. Pela primeira vez, fala publicamente sobre o assunto. A rede do bispo Edir Macedo se defende atacando: "Os católicos não podem reclamar de nada porque usam a Globo para manchar a imagem dos evangélicos", diz Dermeval Gonçalves, diretor-executivo da rádio e TV Record. O bispo Macedo controla a empresa há cinco anos. É também o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, o braço mais ruidoso dos evangélicos, com três milhões de fiéis no Brasil. Inconciliáveis "A discriminação contra os católicos começou em 1990", relata Beltrami. "Mal assumiu a rede, Edir Macedo tirou do ar o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, que apresentava um programa diário de cinco minutos na Record AM". "Pouco tempo depois", prossegue o porta-voz, "o líder da Universal afastou os padres César Moreira, Orlando Gambi e Antonio Godinho". Os dois primeiros tinham programas na rádio. O outro participava do telejornal "Record em Notícias". A gota d'água veio no dia 13 de agosto de 1992. "O movimento dos sem-terra se reuniu com o cardeal Arns para discutir os problemas dos brasiguaios (brasileiros que trabalham no Paraguai). Às tantas, decidiu homenagear o arcebispo, que sempre defendeu os direitos dos camponeses", relembra Beltrami. "A equipe da Record que cobria a reunião preferiu ignorar a homenagem. Na hora da cerimônia, apagou as luzes da câmera. Foi um ato mesquinho de censura." O porta-voz diz que, desde então, representantes da arquidiocese deixaram de dar entrevistas para a emissora. "Claro que nossas relações com os católicos andam estremecidas. O Vaticano e a Igreja Universal têm concepções religiosas inconciliáveis. É ingênuo esperar que tais diferenças não se manifestem no dia-a-dia da Record", argumenta Dermeval Gonçalves. O diretor da emissora rejeita o termo "censura" para os episódios relatados por Beltrami. "Não censuramos ninguém. Apenas tivemos de adequar nossa programação à filosofia do novo dono." Gonçalves afirma ainda que a "recente campanha da Globo contra os evangélicos" deriva de pressões da Igreja Católica -principalmente da ala conservadora. "É daí que nascem minisséries como 'Decadência'." A emissora de Roberto Marinho lançou a trama na última terça. Em 12 capítulos, o programa conta a trajetória de um órfão (Edson Celulari) que vira pastor evangélico, explora os fiéis e enriquece. A Globo não quis comentar as declarações da Record. Texto Anterior: "Chatô" vira minissérie em TV paga Próximo Texto: Universal diz que "não dá outra face" Índice |
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